by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Hypatia

Salvo raríssimas e honrosas excepções, habituámo-nos ou fomos habituados a ouvir História no masculino.

A minha formação não é em História, Humanidades ou Literaturas. Sou, como se costuma dizer, uma mulher da Ciência (não que as Humanidades não sejam uma Ciência), mas pertenço ao ramo da ciência pura e dura, dos algarismos e das fórmulas químicas, das leis e dos axiomas, das sínteses e destilações.

No entanto, sempre fui uma apaixonada pela História. Deslumbra-me “viver" cada segundo que outros já vivenciaram; entender o que somos, porque o somos e o que nos fez chegar até aqui. Conhecer o passado para entender o presente, no fundo, é tão somente isso.

Hoje fui ver um filme, recentemente estreado: “Ágora”.

Recriando o Egipto do séc. IV, sob o poder do Império Romano, Ágora retrata, em simultâneo, a vida de Alexandria, com a sua mítica biblioteca e a toda a sabedoria do antigo mundo, os conflitos sociais de uma época na fronteira entre Paganismo e o Cristianismo e, ao mesmo tempo, dá-nos a conhecer uma personagem que eu desconhecia por completo: Hypatia.

E quem foi Hypatia? Hypatia foi uma mulher dotada de uma forte paixão pela busca do conhecimento e da verdade. Uma filósofa, como se chamava na altura (afinal, a mãe de todas as ciências). Se, por um lado, Hypatia devorava a matemática, a astronomia e a filosofia, em relação à religião teve o cuidado de não permitir que o fanatismo se sobrepusesse à razão e à busca do conhecimento.

Tal atitude não passou despercebida aos que festejavam a vitória de uma religião triunfante, o Cristianismo, com todos os ingredientes próprios dos que pretendiam encerrar o conhecimento nas celas da religião. Tal como viria a acontecer séculos mais tarde a todos aqueles (sobretudo aquelas) que defendiam que o Universo e o Homem se regiam por outros padrões ou paradigmas diferentes daqueles que as Escrituras ditavam, Hypatia foi considerada herética e morta às mãos dos cristãos... E quem diz que a história não se repete?

E aqui está um pouco de história contada no feminino.

Mas Ágora, o filme, é muito mais do que isto. Vale a pena!!


Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e a base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. A última cientista foi uma mulher, considerada pagã. O nome era Hipácia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciência, e devido a Alexandria estar sob domínio romano, após o assassinato de Hipácia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época."

Carl Sagan, in Cosmos



6 comentários:

  1. Olá Ana.
    A propósito do filme, Ágora, que devo dizer que ainda não tive oportunidade de ver e na sequência do artigo que escreves-te.
    Não esquecendo, a figura Hypatia, mulher de um enorme saber para a época, o seu conhecimento contemplava várias áreas do saber. Desde da Astronomia, Matemática e por isso era uma Filósofa.
    Convém referir, que na Antiguidade as várias áreas da Ciência que hoje conhecemos, não se encontravam separadas( por exemplo, a Matemática, Astronomia, a Física, a Biologia,etc.). Tudo se encontrava numa única área do saber a "Filosofia".
    Na Antiguidade, a Filosofia era o mesmo que Ciência e o filósofo o mesmo que sábio ou cientista.
    Por essa razão, não admira que Hypatia fosse uma Filosofa.
    Assim sendo, emerge a seguinte questão:
    O que é a Filosofia ?
    Ainda que tenham sido propostas muitas definições de filosofia nos diferentes sistemas filosóficos, vou-me circunscrever à definição clássica, segundo o autor, Rafael Gambra.
    Segundo este autor, ela vai-nos servir para delimitar o que é filosofia do que não é, no seio dos modos possíveis doconhecimento humano:

    Ciência
    da totalidade das coisas
    pelas suas causas últimas
    adquiridas pela luz da razão.

    Ciência. Muitos dos nossos conhecimentos não são científicos. É o que acontece com o conhecimento que os homens sempre tiveram das fases da Lua, da queda dos corpos, com o que tem o navegador da periocidade das marés, etc. Estes são conhecimentos de factos, vulgares, não científicos. Mas quem conhece as fases da Lua em virtude dos movimentos da Terra e do seu satélite, a queda dos corpos pela gravidade, as marés pela atracção lunar, conhece as coisas pelas suas causas, isto é possui conhecimento científico. Para falar de ciência, no entanto, deve crescentar-se a característica de um conjunto ordenado, harmonioso, sistemático, face à fragmentação de conhecimentos científicos separados.
    A Filosofia é, o conhecimento pelas causas e caracteriza-se pela coerência e unidade, por oposição a qualquer fragmentação. Deste modo, não se trata de um mero conhecimento de factos, nem sequer de uma explicação mágica - por relações causais das coisas.
    Da totalidade das coisas. A filosofia não recorta um sector da realidade para tornar o objecto do seu estudo. Nisto distingue-se das ciências particulares( a física, as matemáticas, as ciências naturais), que delimitam uma classe de coisas e prescidem de tudo o resto.
    Pelas razões mais profundas. Na verdade, a filosofia diferencia-se das ciências particulares pela universalidade do seu objecto, não se distinguiria do conjuntos das ciências particulares, a que se chama enciclopédia. Se as ciências particulares dividem a realidade em sectores diversos, o conjunto das ciências estudará a realidade na sua totalidade.
    Adquirida pela luz da razão. Seria necessário confundir a filosofia com outra ciência que também trata da realidade universal pelos seus últimos princípios e envolve a questão da origem e do sentido: a teologia revelada ou, mais exactamente, o saber religiosos. Distinguem-se, pelo meio através do qual cada uma adquire os seus conhecimentos, pois enquanto o saber religioso procede da revelação e se adquire pela fé, o saber filosófico apenas é construído pelas luzes da razão. Ao revelar o conteúdo da fé, Deus quis que todos os homens tivessem o conhecimento necessário da sua situação e do seu fim, para se salvarem.
    No entanto, este conhecimento, ainda que para o crente seja indubitável, apenas revela os dados e os alvos necessários para a salvação e não constitui por si só uma concepção do Universo.
    A filosofia responde, pois, à atitude mais natural do homem.
    Para finalizar e como síntese, por cima desta imensa e necessária proliferação de ciências independentes, subsiste a Filosofia como tronco matriz, tratando de coordenar e dar sentido a todo esse complexíssemo mundo do saber, e colocando-se sempre a eterna e radical pergunta sobre o ser e a estrutura do Universo.
    Aqui deixo um pequeno contributo na tentativa de explicar o que é a Filosofia.
    Espero ir ver o filme em breve.
    Célia Fonseca

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  2. Olá Ana!
    Na sequência do que acebei ler.
    Importa referir que Filosofia, deriva do Grego, "Filos" e " Sofia". que significa amor à sabedoria.
    Deve ser um bom filme. Um épico?
    Bj
    Astro Rei

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  3. Só para dizer que também quero ir ver esse filme, logo que possível. Não sabia que já tinha estreado.
    Bjs

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  4. Olá, Célia

    Grande e pertinente a tua reflexão sobre a "mãe de todas as ciências".
    Bj

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  5. Vale a pena ver este filme, Teresa. Hypatia e parte da sua vida são apenas a ponta do icebergue...

    Bj

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  6. Os Primórdios da Filosofia.
    A Antiguidade.

    Do mito ao logos.

    " o espanto é desde de sempre motivo para as pessoas filosofarem, continuando a sê-lo ainda hoje." Esta máxima que remonta a Platão e permanece até aos dias de hoje, é da autoria de Aristóteles, que entende por "espento filosófico" o pasmo perante fenómenos e acontecimentos inexplicáveis, do qual nascem as interrogações acerca das causas.

    A Filosofia Ocidental teve origem na Grécia Antiga, tendo os Gregos começado a filosofar por volta de 600 a.C.
    É uma época marcada por profundas mudanças económicas e sociais que conduziriam a uma crise da aristocracia e, por fim, a novas formas de governo (tirania, democracia).
    Concominantemente a tais mudanças, dá-se a chamada transição do mito para o logos, isto é, em vez da interpretação mitológica e religiosa do mundo, por exemplo, através de histórias de deuses sobre a criação e a evolução do mundo e das coisas, opta-se cada vez mais por uma explicação filosófica, científica e racional do mundo.
    A Filosofia na Idade Antiga começa com os pré- socráticos ( entre 650 a 500 a.C. )
    Apesar da minha formação não ser em humanidades, desculpem-me os filósofos, apenas quis dar um modesto contributo aos comentários anteriores, sobre e onde como nasceu a Filosofia.
    Claro, que muito mais haveria a escrever. Mas não é o propósito do meu comentário.
    Bj
    Célia Fonseca

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Olá, então diga lá de sua justiça...