by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

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terça-feira, 7 de junho de 2011

FMR



Como disse a Mafalda, tenho a certeza que fizeste "boas viagens"; como desejou o Afonso, estou certa que estás melhor, aliás, onde estás a doença, tal como as malvadas restrições alimentares, são coisas do outro mundo mesmo!
Sei que inveja é coisa feia, mas  enquanto as tuas pernas se tornaram leves que nem asas, eu arrasto as minhas, mesmo com temperaturas perto dos 25ªC; enquanto saboreias as tuas bebincas e os teus pratos de bacalhau, eu olho, pelo canto do olho, as fatias de bolo de chocolate com 800Kcal cada. Aprendi a comer com os olhos. Fecho a boca e mexo, mesmo sem poder, as pernocas, tudo em  nome de mais uns anitos de vida, a aturar ora uns Sócrates, ora uns novatos, com a mesma idade que eu, mas muito menos curriculo. Ah!, não sabes? O PPC ganhou as eleições, é verdade. Foi uma razia à moda antiga! O PP do PP também subiu e o Paulinho ainda inchou mais.A esquerda, ou lá o que isso quer dizer,  quase desapareceu do mapa e o PS vai a votos. Mas o teu favorito não se chegou à frente. Perfilam-se, apenas,  as candidaturas do Seguro e do Assis, por enquanto. O Cavaco está cheio de pressa em dar posse ao Coellhito, já quer que o menino comece o estágio de PM na próxima reunião da CE. Nunca o vi com tanta pressa. Entretanto vai vetando os últimos diplomas da última legislatura.
Não sei onde se meteram os votos dos manifestantes que encheram a Avenida na manif da Geração à Rasca. Ou a tradição já não é o que era, ou os gaiatos acharam que o dia estava bom para o surf e esqueceram-se que o protesto se faz também e, sobretudo, nas urnas.
Hoje não fui. Não estive presente naquele sitio e naquela hora especiais, mas sei que não ficaste zangado. Sei-te, sinto-te presente em todos os momentos e também sei que tu sabes que eu o sei.
Vou dando notícias, embora tu não precises de mim para saberes das novas, verdade? Vê lá se metes umas cunhas aí em cima, ao big boss, aqui pela famelga toda, que isto agora vai ser mesmo a doer...E, como disse um deles, um até logo, até sempre, até já , (até breve).

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O meu caso sem Facebook



Foi já há algum tempo, há um bom par de anos atrás ou talvez mais, mas nunca escrevi sobre tal, nem escreveria, pois, como diz a canção, recordar é viver, é há coisas que nem mesmo eu, com todo este ar desempoeirado e esta forma leve e fresca de combater as dores prenhas da vida,  consigo viver duas vezes.
Agora, de um momento para o outro, eis que me entra pela casa adentro, cada vez que ligo o PC, ou a televisão ou abro um jornal (ainda tenho o hábito de os ler em papel, vá-se lá saber pq...), uma execrável  história de um filme colocado no facebook, sobre uma cena de violência sobre uma adolescente.
Há dois/três anos atrás, uma amiga minha convidou-me para tomar o pequeno almoço. 
Enquanto se encaminhava para o meu café preferido, disse-me que tinha uma coisa a contar-me sobre os meus filhos mais novos. Com muita calma, pé-ante-pé, depois de parar o carro, contou-me que um grupo de rapazes de cor mais duas raparigas tinham feito uma espera aos meus filhos e dado-lhes uma sova, dois dias antes. Que tudo tinha acontecido à saída da escola, perto da mesma, cerca das sete da tarde (no Inverno). Que tudo se tratava de ciumes por causa de um rapaz que andava atrás da minha filha e a suposta namorada havia tratado de arranjar maneira de a afastar dele. Que a rixa começara quando as  duas raparigas esperaram a minha filha numa ombreira dum prédio, a puxaram pelo o cabelo e a começaram a agredir. Que o irmão, que a acompanhava de volta a casa, intercedeu a favor de irmã, quando o grupo de rapazes de cor, apareceu e começou a agredi-lo, também. Que a isto só parou porque chegou alguém (um adulto) e perguntou o que se passava, o grupo "contratado" fugiu e os meus filhos foram conduzidos até à porta de casa por esse "alguém".
Não queria acreditar no que estava a ouvir. Recusava-me acreditar no que acabara de ouvir. Não podia ser! Os meus filhos? Não, não pode ser!
Pedi à minha amiga que me levasse até à escola deles. Interrompi-lhes as aulas. Agarrei-me a eles a chorar, mal os vi. Depois, olhei-os de alto a baixo, trouxe-os para casa, quis ouvir da boca deles o que se tinha passado. Aliás, queria ouvir que tudo o que a minha amiga dissera era um engano. Mas não. Tudo tinha sido assim, era verdade. O pai sabia e o corpo deles mostrava que sim.
Não consigo descrever o que senti, porque não há palavras para descrever tamanha revolta, tamanha indignação, tamanha impotência. Todos os meus problemas se relativizaram; todos os problemas do mundo se amesquinharam; aquela agressão bárbara não me saía da cabeça noite e dia. Apresentei queixa na polícia, mas não sabia nomes dos rapazes, ...não chegou ao DIAP.
Quanto às raparigas, alunas da mesma escola, apresentei queixa na escola e também na PSP, mas eram menores e em ambas as situações não havia testemunhas. 
Agora, quando vi esta gravação que colocaram no facebook a abrir telejornais... .Dói, mas dói mesmo.
Nem quero imaginar a dor daqueles pais. Eu só vejo se me apanharem distraída.
Disse.




quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"Geração à rasca"


Sinto-me filha de ninguém.
Cria de geração sem nome, sem referência, sem causa, sem mote.
Por alturas de Maio de 68 ainda não sabia ler nem escrever, muito menos que coisas se passavam em França ou mesmo que existiria algo para além de Badajoz da Espanha, donde o meu triciclo tinha vindo.
Um ano depois, em 69, o Homem foi à lua. Foi no dia do casamento da minha prima Lurdes. Mas o que me ficou na memória , nesse dia, foi a conversa sobre uma novidade que as senhoras usavam e, pelos vistos, lhes facilitava a vida. Usavam collants, pela primeira vez, e comentavam a facilidade daquela peça de vestuário.
Como a lua para mim era uma coisa da noite e das histórias da adormecer e as minhas tias diziam que aquilo do Homem pisar a lua era tudo invenção, decidi voltar costas à televisão e ao grupo dos homens e ficar a ouvir as facilidades do uso das collants vs chatice do uso de meias com cinto ligas.
Uns anos mais tarde veio a Revolução dos Cravos, estava eu na 4ª classe e para mim foi dia de festa. Não houve aulas, o meu pai estendeu um porco morto no meio da cozinha da minha avó e, lá em casa da minha avó, juntou-se a família toda, agarradinha à televisão. Perguntavam pelo Spínola, pelo Soares. Eu preferia indagar as entranhas do porco, pois do que se estava a passar nada entendia e nada me explicavam.
Não posso, portanto, dizer que seja da geração que fez ou festejou a revolução de Abril.
Não sou daqueles que levaram com as passagens administrativas pela cara, os anos propedêuticos, os serviços cívicos. Não, nada disso.
Sou daqueles que fizeram o percurso do "certinho e bonitinho", depois da confusão ter acalmado e das experiências da revolução e tentativas de contra-revolução terem serenado. Sou do unificado, do 12º ano e dos números clasus.
Não tendo sido perdida nem achada para essa causa, lembro-me de um dia 12 de Junho de 1985 e do  Portugal na CEE.
A partir deste dia foi ver os milhões (não sei de que moeda) entrarem todos os dias no nosso país e o alcatrão cobrir montes e vales, as mega - barragens pintarem de azul o que antes era verde,
O litoral a "litoralizar" e o interior a "interiorizar"; o Alentejo ora litoralizava ora"coutizava",...
Foi ver um país democrático, laico e republicano, onde a classe média e alta quase não se distinguiam, onde todos os seus  filhos tinham carrinho, casa, emprego, cursos financiados, férias em Cabo Verde, telemóveis, computadores, plasmas, Ipod,... tudo com fartura e sempre na crista da onda.
Há dois dias, perguntei ao meu filho mais velho, que tem 20 anos, quando é que ele pensava arranjar emprego.Ele respondeu-me:
"Oh mãe, tu não vês as notícias?Não há empregos mãe. E os que há são formas de exploração dos jovens. Eu sou da geração à rasca!" 
Calei-me.
Acho que já tenho uma definição para a minha geração:
A geração que teve de tudo, mas gerou a Geração à rasca.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Bancos de jardim

Num destes dias de "amargo far niente", fui dar uma volta até ao parque e sentei-me num banco de madeira, à sombra de uma daquelas seculares árvores onde há muitos anos atrás, com um balão verde nas mãos e umas longas tranças negras, tirei montes de "retratos" ao colo da minha mamã.
No banco ao lado estavam duas velhotas. Velhotas nada, porque, afinal, velhos são os trapos e a única diferença entre aquelas senhoras e eu, conclui passados alguns minutos, era o facto das mesmas nunca terem feito retratos à sombra daquelas árvores com a um balão verde nas mãos e ao colo das suas mamas. Talvez tivessem tido igualmente longas tranças negras e mamas também, certamente; só que no tempo delas não havia ainda balões verdes, as mamas eram mães e as árvores do parque eram bem mais pequenas. Ah! e as fotos, as fotos deviam ser a preto e branco...Estas eram as diferenças entre mim e estas duas senhoras, tendo no entanto, estas senhoras, uma vantagem sobre mim: o Tempo. Contado em dias, tinham um bom punhado de grãos de areia a mais do que eu, no calendário do seu passado, da sua sabedoria, da sua experiência de vida.

"O tempo já não é o que era dantes. Olha pra estes calores repentinos. Isto até nos faz mal. Dá cabo da gente."
"Mas alguma coisa é o que era dantes, ó Maria, tá tudo mudado. Nada é igual. Já não há respeito."
"Tens razão. Ó se o meu Manel cá tivesse... Graças a Deus que ele na viu nada disto."
"O quê? O tempo?"
"Na, qual tempo! O filho que ele e eu criamos! Sabes lá... Já no tempo do pai as coisas na iam lá muito bem, mas agora, mulher, agora...Deus me dê forças e alguma saúde para fazer as minhas coisinhas, enquanto for viva."
" Então, mas as coisas pioraram?"
" Qual pioraram, qual quê? Nem o vejo. Não me visita, não me telefona. É como se não tivesse mãe, sabes como é?"
" Sei, sei, é como a minha Antónia. É o que digo, o Mundo tá todo virado. Isto é o fim dos tempos!! Olha o que eu te digo!! "
"Sabes lá, no outro dia peguei naquela coisa, aquele aparelho que o Manel comprou antes de se ir, coitado, que Deus o tenha, o telmóvel, carreguei no 1 e foi ter a chamada ao meu rapaz. Gostava que ele me levasse ao médico, no dia seguinte, à tarde. Ele até estava de férias... olha, lembrei-me de perguntar..."
"Então, ele foi contigo? Fizeste bem, sempre foste acompanhada.Lisboa é uma confusão prás nossas cabeças"
" Ó mulher, mas tu achas mesmo? Disse-me que também tinha que ir ao médico dele. Às 6h00 da manhã."

E, sem perceber muito bem a razão que o coração tem e que a própria razão teima em desconhecer, ou que mais retratos a minha memória jorrará para me surpreender, levantei-me, orientada por uma bussola de um desnorte invisível e fui.

:):)

sábado, 24 de abril de 2010

Olhar do avô

"João, acorda, depressa, levanta-te, há um golpe de estado! Acorda a menina."
Não foi preciso acordar a menina, naquela madrugada de há 36 anos atrás. A menina acordou, sobressaltada com a aflição da avó, aquela mulher que ela se habituara a ver como um pilar de força, de resistência, de coragem, de energia, de firmeza.
E depois, que palavras eram aquelas" Golpe de Estado"? A menina nunca ouvira aquelas duas palavras conjugadas!
Sabia o que era um golpe. Golpe, para a menina, que tinha dez anos, em 1974, era uma ferida. Ainda não sabia que poderia aplicar-se a palavra "golpe" a sentimentos, como sinónimo de "facada" pelas costas, a actos de cobardia. E Estado, era Estado de Nação ou estado do verbo estar. Que confusão! A Nação tinha uma ferida? Quem tinha feito uma ferida à Nação? Onde era a ferida da Nação?
Avó, o que se está a passar? Avô, o que aconteceu?
Era de madrugada. Sim, a avó levantava-se cedo, muito cedo, ainda o sol estava a nascer lá para as bandas da democracia ou do comunismo por isso ela sabia tanto, trazia sempre as notícias muito frescas, tal como as frutas e as hortaliças que vendia no seu "lugar" na Av. dos Pescadores, nº 95, onde a menina cresceu, desde os seus quatro dias de idade.
Mas aquele dia foi diferente. Se foi...
A avó fez tudo direitinho, mas estava nervosa, muito nervosa. Telefonava para o pai da menina, que apareceu pouco tempo depois. Ninguém sabia muito bem o que fazer. A menina foi para a escola, mas a professora mandou todos para casa. E a menina continuava sem saber quem tinha feito uma ferida na Nação! Que coisa, ninguém explicava nada.
Na loja da avó, todos queriam comprar tudo, mas a avó, o avô e o pai , também queriam guardar muita coisa para casa. O pai da menina, foi a uma das malhadas e matou um porco que trouxe para casa da avó e colocou o animal morto, esventrado no chão, no meio da cozinha. Até o armazenamento de pilhas não foi deixado ao acaso, pois a electricidade podia faltar, porque "nunca se sabe no que pode dar o golpe de estado". A casa da avó parecia que era uma espécie de Natal, mas sem presentes, decorações e com alguma apreensão. A menina nada entendia. A família reuniu-se toda lá. Depois começaram a perguntar por umas pessoas que ela nunca ouvira falar antes. "Onde se meteu o Spinola?", entre outros. Tudo estava colado à televisão. O avó preferia ter o transístor, como ele chamava, colado ao ouvido. A menina não percebeu muito bem porque os olhos do avô, na altura com 77 anos, brilhavam tanto com a ferida que tinham feito à Nação.
E, durante algum tempo, ninguém explicou à menina o que era "Golpe de Estado", mas o brilho que era vira nos olhos do avô chegou para a tranquilizar.
Mas depressa aprendeu o que era, ou o que tinha sido um Golpe de Estado. Ouviu da boca do seu avô o testemunho de uma Nação que ela não conhecia e compreendeu o porquê do brilho do seu olhar naquele dia. Percebeu a "felizarda" que tinha sido por ter chegado aos 10 anos de idade sem saber o significado da expressão "Golpe de Estado". A eles, seus avós, o agradece.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Amigos


Hoje o meu irmão faz anos. 32, penso eu.
Já era uma mulherzinha quando ele nasceu e assisti, de muito perto ao seu crescimento, à forma benevolente e embevecida com que o meu pai acompanhava a formação daquele jovem, o "filho homem" que perpetuaria o seu nome e, enfim, encheria o seu ego próprio de uma cultura algo machista.
Precisamente porque me lembrei do aniversário do meu irmão, decidi escrever sobre os meus amigos.
A estes não nos unem laços de sangue, mas são eles que juntam todos os pedaços da nossa alma quando esta se parte em pedaços.
Geralmente, não nos lembramos de os ver nascer, mas são eles quem nos prova o sentido e a pertinência da nossa existência e acendem a lanterna, quando a luz ao fundo do túnel teima em não aparecer.
São eles que nos dão a mão, nos emprestam o anel, nos oferecem o sorriso, nos devolvem o ego perdido, nos brindam com a sua força, nos concedem o seu tempo…
Aos meus verdadeiros e autênticos amigos, muitos parabéns e muitos anos de vida!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Natal


Não quero parecer lamechas nem demasiado nostálgica, mas hoje, ao ver os meus sobrinhitos, lembrei-me de quando eu e a minha irmã tínhamos a idade deles e como vivíamos o Natal.
Era uma época muito diferente dos dias de hoje; as celebrações de Natal limitavam-se no tempo e no espaço. Não começavam quase dois meses antes, com a imensidão de lâmpadas de todas as cores nas árvores; não víamos casas transformadas em autênticas centrais eléctricas; ninguém imaginaria colocar um Pai Natal a subir por uma varanda.
A festa era dentro de casa de cada um, a casa da família, do patriarca ou do filho varão que congregava à sua volta as várias gerações de membros daquela família.
Tínhamos um pinheiro verdadeiro (ai, a consciência ecológica de então!) até ao tecto, no canto da sala. Olhando para trás, aquilo é que se podia chamar uma verdadeira árvore de natal! Não por ser real, mas pelo profusão de fitas metálicas de todas as cores, de bolas de vidro que espelhavam as mesmas fitas, de gambiarras arco-íris e de chocolates de várias formas, mas sempre alusivos ao Natal.
Quem não se lembra dos chocolates em forma de Pai Natal, embrulhados naquele papel de alumínio vermelho e prateado? O número de chocolates que resistia pendurado na árvore até à noite da consoada variava, de ano para ano, mas a sua presença era insubstituível.
Recordo a azáfama que se vivia na loja da minha avó. As couves portuguesas eram encomendadas com semanas de antecedência! Troncudas e tenras, ao mesmo tempo, para acompanhar o convidado de honra, o bacalhau, claro está!
Para além das couves e do bacalhau, creio que nada mais era encomendado, tudo era feito em casa, com esmero e dedicação e sempre com aquelas receitas que vinham desde as nossas bisavós e passavam de geração em geração.
Os tempos foram evoluindo e lembro-me de ver começar a fazer parte da mesa de Natal o “Tronco”, uma torta de pão de , recheada de doce de ovos e coberta com chocolate. Depois veio a “Lampreia de ovos” e assim sucessivamente, até se chegar ao camarão, aos patés, às tábuas de queijos e enchidos….enfim, sinais dos tempos …
Mas o ponto alto era a chegada do Pai Natal!!! E ele veio anos e anos a fio!! Sempre com a mesma sonora gargalhada, anunciava a sua chegada. Eu e a minha irmã sabíamos então que era hora de esconder as nossas cabecitas no imenso e caloroso colo do meu avô paterno, o avô João, enquanto o Pai Natal descia pela chaminé e colocava as prendas nas botas, sapatos, pantufas, meias e demais apetrechos que servissem para colocar nos pés.
Fazia-se magia! Era um momento mágico. Pontual. Às doze badaladas, lá se ouvia o OHOHO!!!
Curioso, a minha avó Elvira nunca estava na sala quando o Pai Natal chegava, mas isso não retirava, em nada, o encanto e a fascinação daquele momento único.
Quanto às prendas que recebíamos... Deixo para outra altura a descrição da emoção com que desembrulhávamos aqueles “mimos”, assim como a forma que arranjámos para descobrir de onde vinha aquele OHOHO.
Nestes últimos anos, tenho tentado manter este clima de magia com os meus sobrinhos. Enquanto o Pai Natal não chega, eu, o João e o Pedro reunimo-nos e estudamos as mil e uma estratégias possíveis de o prender , por uns momentos, lá em casa.
Um destes anos nevava em Bruxelas e os três, com os olhos pregados à janela e atentos a todos os movimentos suspeitos, vimos passar as renas e o trenó! Acreditem, vimos mesmo!!! O João, com 5 anos na altura, apressou-se a colocar junto da porta de entrada uma fatia de bolo rei e um cálice de vinho do Porto, para que o Pai Natal fosse bem recebido! (cá para mim este meu sobrinho tem jeito para a política… começou muito cedo a dominar a prática do suborno).
Mas teve pouca sorte, o Pai Natal tinha a chave da porta, entrou e só soltou a sua gargalhada quando saiu. Quanto ao bolo rei e ao vinho do Porto, nem tocou. Que desiludido o João ficou!!
E assim, tal como as receitas das rabanadas e dos sonhos, também esta receita de magia vai passando de geração em geração, com algumas adaptações aos tempos modernos, claro está… as casas já não têm chaminé e o Pai Natal não é adepto de exaustores.


Feliz Natal para todos vós!!