by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Cansada, mas não vencida!

 

PELAN LA VIDA 

Pintura a óleo de Imma Merino

 Imagem do blogue da Helena

 

O que há


O que há em mim é sobretudo cansaço —
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto em alguém,
Essas coisas todas —
Essas e o que falta nelas eternamente —;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada —
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Homenagem do Mário a mim

Quase 


Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...
Assombro ou paz?  Em vão... Tudo esvaído
Num grande mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!
De tudo houve um começo ... e tudo errou...
- Ai a dor de ser - quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se enlaçou mas não voou...
Momentos de alma que, desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...
Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...
Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...


Mário de Sá Carneiro (1890-1916)

                                                             Gustav Klimt
                                                                               El beso

terça-feira, 13 de julho de 2010

Noite escura

 

Há alturas da nossa vida em que sentimos que a noite que nós sem querer chamámos nos envolve, num continuo crescente.

Gritámos pela alvorada, mas ainda assim ela não surge...

No entanto, e apesar do breu da noite escura, não nos arrependemos do caminho traçado, apenas lamentamos a sua amargura.

 

INVICTUS

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.
Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.
Além deste oceano de lamúria,


Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.
Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

William E Henley

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Os meus olhos são de vidro


Hoje, apeteceu-me Eugénio.

Adeus

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

:):)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Endechas a Bárbara escrava

Paul Gauguin

Hoje apetece-me poesia.
Ao amor, à língua portuguesa, a Luís de Camões.
Aquela cativa,
que me tem cativo,
porque nela vivo
já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
que em suaves molhos,
que para meus olhos
fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
nem no céu estrelas,
me parecem belas
como os meus amores.
Rosto singular,
olhos sossegados,
pretos e cansados,
mas não de matar.

üa graça viva
que neles lhe mora,
para ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
onde o povo vão
perde opinião
que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
tão doce a figura,
que a neve lhe jura
que trocara a cor.
Leda mansidão
que o siso acompanha:
bem parece estranha,
mas bárbara não.

Presença serena
que a tormenta amansa:
nela enfim descansa
toda a minha pena.
Esta é a cativa
que me tem cativo,
e, pois nela vivo,
é força que viva.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Dia de S. Valentim


Entre escrever sobre a violação do segredo de justiça, a edição (sensacionalista) do SOL, os comentários dos donos da verdade, o Carnaval da Mealhada, de Ovar ou o do Alberto ou o Dia de S. Valentim, escolhi este último. Não por ser um dia dedicado a um santo, mas por ser um dia que convida a escrever coisas bonitas, destinadas às pessoas "mais bonitas da nossa vida".
Não é nada da minha autoria (quem sou eu...). Vou transcrever um poema que recebi, acompanhado de um Bombom em forma de coração e de um bom livro.

O AMOR É O AMOR

O amor é o amor - e depois?
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? Somos dois? -
Espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?!

Alexandre O'Neill

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Invictus













Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - erecta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.


William Ernest Henley, escritor britânico (1849- 1903)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Eugénio

Não sou especialmente fã de poesia. Não tenho nenhum poeta de eleição, nem uma poesia/poema que me toque, de forma arrebatadora, as cordas da alma.
No entanto, há sempre alguém… E, para além de Sebastião da Gama, há um outro senhor nascido no Fundão a 20 de Janeiro de 1923.
Entre muitos outros poemas, este senhor, “rabiscou” estes dois que admiro particularmente.
Ele, o senhor, chamava-se Eugénio de Andrade.


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer


O sorriso

Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Pelo sonho é que vamos


Uma colega e grande amiga minha há uns bons pares de anos atrás, mais concretamente em Junho de 2002, decidiu deixar de fazer parte da equipa que geria a nossa escola. Para além de minha grande amiga, era também o "braço direito, perna, tronco", tudo. Bastava um olhar para nos entendermos... e ela entendia-me tão bem, que no dia da despedida, ofereceu-me este poema, que agora partilho convosco.




Pelo sonho é que vamos


Pelo sonho é que vamos,comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquiloque talvez não teremos.
Basta que a alma demos,com a mesma alegria,ao que desconhecemose ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.


(Sebastião da Gama)


Como ela me conhecia (e conhece) bem)!!