by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

domingo, 31 de janeiro de 2010

One thousand and...




Hoje é dia de festa na minha pobre alma de pretensa escritora.
Quando vim ver as novidades do mundo cibernético, reparei que os visitantes do meu blog já tinham passado os 1000!!
Comecei no dia 1 de Dezembro de 2009, portanto há cerca de dois meses.
Tive vontade de parar, muito recentemente, porque reconheço que o que escrevo não são mais que umas tantas passagens retiradas, na hora, do meu diário de bordo, sem qualquer interesse para quem anda por esta bandas à procura de informação, de fontes de conhecimento.
Não sei pois como justificar os mil e tantos…
Resta-me agradecer e pedir que continuem.

P.S.: Visitem os também blogues que eu assinalei. Vale a pena.

Beijos
Ana

sábado, 30 de janeiro de 2010

Serviço Público II


Correndo o risco de expor a minha “vida privada”, gostaria de partilhar os sentimentos que me invadiram enquanto estive internada no velhinho Hospital do Montijo.

Confesso que ia algo perplexa, não sabia muito bem o que iria encontrar, em termos de instalações, de pessoal médico, de enfermagem, auxiliar, por aí fora…

Afinal, por muito que não queiramos, acabamos por ser influenciados pela “cultura do dizer mal” dos hospitais públicos, de entrar com os ouvidos cheios dos processos que se abrem por “enganos” cometidos, tipo Avastin e outros…

Bom, determinação foi coisa que nunca me faltou e como o que estava em causa não eram umas férias, mas uma intervenção urgente, pois que assim fosse.

A unidade de cirurgia é pequena, muito pequena, comparativamente com as últimas que tenho “frequentado” (maternidades, leia-se). A unidade das mulheres talvez tenha umas cinco enfermarias, talvez 15 camas.

Três casas de banho comuns a todas as enfermarias, um espaço com mesas e cadeiras plásticas com um papel colado numa das janelas com a inscrição “REFEITÓRIO”, comum às unidades de mulheres e homens.

De facto, não é um hotel, não tem o espaço nem a comodidade de um hospital privado.

Mas tem outra coisa, que me tocou profundamente.

As doentes eram maioritariamente pessoas muito idosas, tão idosas que estranhavam a minha “meninice”, tratando-me, sempre, por menina, apesar de lhes dizer que tenho um filho com quase vinte anos.

Tanto o corpo de enfermagem (que estava em greve), como os ajudantes eram pessoas que estavam ali para cuidar de pessoas, entendem?

Não havia a doente da cama 10. Era a D. Gertrudes, que precisava de um copo de água ou de que a ajudassem a comer.

“Sim, D. Gertrudes, já vamos ter consigo.”

Não era a paciente da 13 que não conseguia tomar banho sozinha. Era a D. Antónia a quem a ajudante, todas as manhãs, se dirigia “Então como foi esta noite, D. Antónia?. Correu tudo bem? Quer tomar banhinho agora ou mais logo? Vá, vamos lá, devagarinho.”

Não havia “a” da cama 8 para dar a medicação. A enfermeira, chegava à cama 8 e perguntava “D. Maria, tem dores? Quer fazer um sorozinho?”.

E as refeições? “Então, D. Ana, chá, iogurte, sumo, o que prefere? Quer que arrefeça o chá? Com açúcar ou sem? Quer uma palhinha. Vá devagarinho, espero o que for preciso. Um trago de cada vez.”

Nunca ouvi, “Sras visitas, terminou a hora, façam o favor de sair”.

Aquela casa é de todos e todos são bem vindos, seja a horas for, desde que não comprometam o serviço, claro.

Situações limite, de amputações de membros, de carcinomas, de ablação de órgãos, a quem já deu todas as suas forças ao País, mas não pode recorrer ao privado, encontram, naquele espaço exíguo, a compreensão, a paciência, a tolerância, a complacência, a benevolência que a escassa pensão de sobrevivência ou o rendimento mínimo não pode “comprar”.

Em suma, encontrei calor humano, vi que havia claramente uma missão, por todos partilhada, sempre com o sorriso, com um gesto afável.

A missão de tornar o mais agradável possível aquela passagem por ali, não a pessoas como eu, que “aterram” por três ou quatro dias, mas aos nossos idosos, por vezes, olvidados por quem de direito, incapacitados pela luta da vida e que encontraram ali uma morada quase tão permanente, quanto o tempo de vida que lhes resta permite o estado de permanência.

Bem hajam e obrigada!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Serviço Público


Não sei se por herança histórica, se por desalento ou falta de confiança em nós enquanto nação, habituamo-nos a dizer mal de tudo quanto é serviço público.
Tornou-se mais vulgar do que a “Farinha Amparo” falar mal da escola pública (pois as melhores dos rankings até são privadas), dizer “cobras e lagartos” do sistema judicial (os escândalos sucedem-se a uma velocidade vertiginosa e até matéria confidencial já se encontra no You Tube) e, claro, o outro pilar da sociedade não pode escapar à desdita – o da saúde.
Foi a gripe A comentadíssima, pois as vacinas já deveriam estar a ser ministradas e ainda não tinham sido encomendadas; depois, concluiu (quem quis), que tudo não passou de um embuste, destinado a favorecer a indústria farmacêutica.
Correndo o risco de fazer o ingrato papel de “advogado do diabo”, venho enaltecer um serviço público do qual fui muito recentemente utente – o velhinho e quase extinto Hospital do Montijo.
Entrei lá no dia 14 de Outubro, vítima de um acidente em serviço e fui atendida por quem estava ao serviço, um médico cirurgião.
Numa das consultas de acompanhamento do dito acidente, contei, em traços largos, um problema de saúde de que padecia há algum tempo e com o qual já tinha gasto rios de dinheiro, em exames e consultas, no sector privado.
A solução encontrada por quem me seguia no privado foi, desde a primeira hora, a cirurgia, mas a cada consulta mais exames eram pedidos (também para o privado, logo com a indicação do local e especialista a quem deveria recorrer…).
E assim andei, durante um ano e meio, com a “sentença lida”, mas aguardando sempre por mais um exame e depois a consulta e …e…e…
Pois não sei se por sorte, se por termos um “péssimo” serviço de saúde que quer mostrar trabalho, o médico que me atendeu, numa situação de urgência, pediu-me os exames já realizados e na hora, marcou consulta de anestesia, exames pré-operatórios e cirurgia com a indicação de urgente.
Lista de espera? Sim, certamente existem. No meu caso, após a consulta de anestesia, foram nove dias de imperceptível espera.
Depois de tudo ter passado, interrogo-me: terá sido pelos” meus lindos olhos”? Terá sido por estarmos na “província” ? Ou será que o sistema nacional de saúde afinal até funciona?
Hum…. Estou certa que foi o meu olhar piedoso, senão as seguradoras, com os seus fabulosos e igualmente inacessíveis seguros de saúde e os hospitais privados já teriam ido à falência. Certo?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Echarpes



Ora bem, cá estou eu de volta às escritas “palérmicas”.
Hoje, apetece-me escrever sobre um assunto trivial – moda-, mais concretamente acessórios de pronto a vestir.
Quem me conhece sabe que tenho uma especial atracção por echarpes.
Seja verão, seja inverno, faça sol ou faça chuva, raramente dispenso uma echarpe.
Pode ser mais trabalhada, mais simples, de algodão, viscose ou lã. Pode ser toda lisa ou emanar uma profusão de cores que combine com a camisola, com as calças, sei lá…
Depende da ocasião, do estado de espírito desse dia e do “mais ou menos leão ou mais ou menos gato” que vejo reflectido no espelho do meu quarto, enquanto me arranjo.
No entanto, e como reciclar é palavra de ordem, resolvi adoptar este modelo, 100% fibra de algodão esterilizada revestida a plástico, igualmente esterilizado e biodegradável.
Durante uns tempinhos vai ser a minha echarpe preferida, até porque é autocolante, não se desloca 1mm do local exacto onde deve estar.
Espero que gostem… mas aviso que não dou informações sobre o estilista ou a loja onde adquirir. Modelo exclusivo!!

domingo, 24 de janeiro de 2010

Escrito na pedra

Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir.

Paul Valéry
(1871-1945)

In Jornal Público, Edição impressa de 23 de Janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

FIM

quando criei este blog era para dar asas ao gosto de escrever que sempre tive nao pretendi ser um saramago um pessoa ou mesmo um rodrigues dos santos no entanto a cada post que publicava surgiam as criticas á virgula que separava sujeito de predicado á acentuação das palavras que nao respeitava a sua fonética aos deteminantes ás subordinadas e ás subordinantes aos adverbios de modo tempo e lugar ao espaço a mais entre duas palavras ás aspas colocadas um milimetro após o final do texto a tudo o que era texto decidi por isso deixar de escrever afinal a escrita é uma arte como tal so reservada a alguns eruditos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Telepatia


Ontem fui almoçar com uma colega e grande amiga.
Embora a veja todos os dias, claro que quando duas professoras se juntam, o assunto é sempre, invariavelmente, escola.
Lá falámos sobre o novo diploma, os próximos concursos, isto e aquilo.
No entanto, como provavelmente se passará entre todas as pessoas que são verdadeiramente amigas, ela notou que alguma coisa me incomodava, tal como em tempos idos, quando tínhamos que tomar uma decisão “de equipa”, bastava olharmos uma para a outra para ficar a perceber o que cada uma de nós pensava. Na altura, pensávamos que era por trabalharmos muito tempo lado a lado, mas o que é certo é que essa espécie de telepatia se manteve, apesar das distâncias físicas terem aumentado.
Lá falámos, recordámos tempos passados, altos e baixos, alegrias e tristezas próprias da vida. Relembrámos alturas em que uma “dava a mão à outra” quando era preciso ajudar a caminhar…
No final do almoço, trocámos as prendas de Natal(!). Recebi um livro com o seguinte título: “ A mulher que viveu por um sonho”.
Ainda não o li, obviamente, mas tenho a certeza que a heroína deste livro deve ter pago muito valor muito alto para “Viver por um sonho”.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Eugénio

Não sou especialmente fã de poesia. Não tenho nenhum poeta de eleição, nem uma poesia/poema que me toque, de forma arrebatadora, as cordas da alma.
No entanto, há sempre alguém… E, para além de Sebastião da Gama, há um outro senhor nascido no Fundão a 20 de Janeiro de 1923.
Entre muitos outros poemas, este senhor, “rabiscou” estes dois que admiro particularmente.
Ele, o senhor, chamava-se Eugénio de Andrade.


É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer


O sorriso

Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Uma Aventura II


Quando se começa alguma coisa, devemos acabá-la. É uma questão de auto-disciplina.
Ultimamente, tenho escrito sobre variadíssimas coisas, mas há uma que está pendente e que quero terminar. A viagem à Finlândia.
Lá percebi, entre outras coisitas, que a empregada do hotel não era tão burra como eu pensava, pois dirigia-se a mim, com o jarro do café na mão e dizia ”Finnish coffee?” e eu pensava” se o café acabou pq me oferece café?”. Finalmente entendi que o café não tinha acabado, somente era café finlandês, o que me oferecia…
Bom, depois de me habituar às diferenças daquelas paragens e ao modo de estar tão radicalmente oposto ao nosso daquelas gentes, decidi que “em Roma sê romano”.
Então, lá metemos mãos à obra à procura de uma qualquer estância de desportos de inverno, onde se pudesse passar um domingo diferente. Depois de andar quilometros e quilómetros, descobrimos Kuopio, uma localidade com uma estância de desportos de inverno, todos aqueles que possamos imaginar. A cabecita do meu filho mais novo parecia um moinho de papel ao vento, rodopiava sem sem parar, olhando para os que praticavam snow bord, invejando os que desciam as encostas de esqui, mas a grande atracção para ele eram, de facto, as motos de neve.
Mais por curiosodade do que por convicção, entrei numa dessas “lojas” onde se aluga tudo para a neve, desde as famosas motas, às luvas…. Tudo. O rapaz não parava, parecia ter entrado numa outra dimensão.
“Mãe, vamos andar de mota de neve… mãe, por favor…”
“Estás doido, filho, isto é perigoso. Eu nunca andei numa mota de estrada quanto mais agora numa de neve”.
“Mas estas são mais seguras, têm 4 rodas!! Por favor, mãe. Até alugam os fatos.”
Continuando a satisfazer a minha curiosidade, mas começando também a ceder ao coração de manteiga próprio das mães, entabulei conversa com o dono da loja… preços, condições, facilidade de uso do equipamento (leia-se motas…).
“Ok, it’s easy and cheap”.
Fatos à disposição, para todos os gostos, tamanhos e necessidades. Depósito de combustível cheio. Mapas dos traçados, referências assinaladas, tudo.
“Mas ele só tem 15 anos!!” .
“No problem, it’s ok. I teach him.” E continuava no seu inglês meio “russo” a falar, disposto a ensinar o míudo a manusear aquela máquina.
Não me perguntem onde estava com a cabeça. Éramos um grupo de 7. Eu, os dois míudos e mais quatro colegas. Alugámos 4 motos.
O meu filho estava em êxtase. Mal começou a ver que o frágil coração de mãe cedia, correu para trás do balcão e prontificou-se a ajudar o proprietário da loja nas contas… não fosse a mãe ter tempo suficiente para assentar os pé na terra…
E lá fomos nós. Claro que foi o menino que levou a mota e a mãe (eu) como pendura!
“Vai mais devagar!!”
“Oh mãe, cala-te e aprecia a paisagem!”
E a aventura continuou, por florestas brancas e lagos gelados.
Não me vou deter em explicações detalhadas, mas às tantas, e dado o grupo ter-se separado, ficou uma mota: a do meu filho, comigo e com o irmão.
Perdidos. Tinhamos partido por volta das 14horas, para um passeio de 1 hora, pelos lagos gelados e com uma temperatura de 13º negativos.
Eram 16 horas, lagos nem vê-los, apenas floresta e floresta, a noite começava a cair, os telemóveis congelados não realizavam chamadas…, o traçado do mapa não correspondia ao traçado do terreno…
Tal como na história de Hansel e Gretel, vi uma casinha que deitava fumo pela chaminé, aí a uns 100m de nós. Farta de motas que deixaram de querer funcionar, meti pés ao caminho, ou melhor, à neve, e dispus-me ir a corta mato, pedir auxílio. Um passo, apenas um passo para me fazer recordar que aquilo era neve a sério. Fiquei com neve quase até à cintura e sair de lá…??
Lá fomos, a pé, por caminhos não de neve, mas de gelo.
Truz , Truz!!
Bloa onn gum… uma linguagem que não consegui entender e lá apareceu um homenzarrão, com quase dois metros de altura, à porta. De lá de dentro vinha o quentinho mais delicioso de que consigo ter memória.
“ English?”
“oo”, parecia um Não, na linguagem do Pai Natal.
“Français?” aãã, nem deviam compreender aquela palavra.
“Russian”, disse por fim o tal homem.
“Pois, russian, no”.
E agora? Bem, peguei no telemóvel e tentei explicar que estava perdida e pretendia telefonar, mas o telemóvel não funcionava.
A única coisa que o homem percebeu, parece ter sido a marca do telemóvel. Nokia, a imagem de marca dos finlandeses. Certamente pensou que eu o queria vender…
E à porta continuavamos, cheios de frio e eu desesperada. Claro que os míudos estavam encantados!!
Pensei… uma palavra universal… TAXI.
“TAXI” e apontava para o telefone.
Fez-se luz! O homem das neves lá me convidou a entrar, ligou para os táxis e passou-me a chamada. Alguém que falava inglês. “Onde estão?”…
“Não sei. Vou passar ao dono da casa e pergunte-lhe.”
E lá se entenderam os dois, na linguagem do Pai Natal.
Desligada a chamada, fomos amavelmente convidados a sair para a rua (povo hospitaleiro, este!!! ) e esperar pelo taxi, cerca de 30 min, com as temperaturas a caírem para os 20º negativos e a noite a aproximar-se.
Reconheço que só a boa disposição do meu filho mais novo conseguiu manter as nossas temperaturas corporais. Fazia-nos rir, escavava na neve à procura de água gelada ou de terra. Ora dizia, que já estávamos na Sibéria, ora afirmava que a loja das motas era já ali.Cada vez que passava um carro, de 10 em 10 min, mandava o carro parar, pegava no mapa, apontava para o mesmo e dizia para o condutor “Here (batendo com o pé no chão), where? (apontando para o mapa)”
Resposta, sempre “ooo. Russian” .
Lá chegou o táxi. Mas ainda tinhamos a mota para devolver…
Eu e o irmão entrámos no táxi e ele veio atrás de nós, de mota de neve, por estradas de gelo, com camiões a circularem, a mota a fazer faíscas e a resvalar no gelo, o “pó” da neve a tapar-lhe por completo o campo de visão e eu com o coração mais pequeno que uma cabeça de alfinete.
Perguntava ao taxista: “How far way is it from…?”.
Resposta: “Ok.”
“Please, go slowier”.
“Ok.”
“How much time remais to arrive there?”
“Ok”
Às tantas, “STOP!!”
“0k”. E parou. Saí do táxi, disse ao míudo que deixasse a moto à beira da estrada e que viesse connosco no táxi. Não aguentava mais ver os riscos que ele corria.
Foi o sangue frio que ele revelou, apenas com 15 anos de idade, desde a altura em que se apercebeu que estavamos perdidos e sob o risco de hipotermia, ao fazer-nos rir, mexer, correr, andar enquanto esperávamos o táxi, até à momento em que arriscou a vida na condução da mota, à noite, que me fez admirar a coragem e o sentido de responsabilidade, quase sempre ocultos, daquele meu filho.
Já deitados, no quarto de hotel, perguntei-lhes “Vocês têm a noção do risco que corremos? Se o vosso pai sonha com isto, nunca mais vos deixa sair do país comigo!“
“Oh mãe, não dramatizes. Foi uma aventura e tanto.”
Dias depois, já “salvo” a bordo de um Airbus da TAP, com destino a Lisboa, ele começou a chorar.
“Que se passa, filho? Que tens?”
“Nada, mãe. Esta foi a viagem da minha vida.Nunca mais viverei uma aventura como esta. Obrigada.”

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Margem sul


O deserto, como alguém lhe chamou.... a província, como os urbanos da "capital" gostam de lhe chamar. O "jamais" que se tornou, ao que parece, o "certement"...

A minha margem sul, a nossa "linha" que se tornou mais apetecível após a inauguração da Ponte Vasco da Gama, em 1998 e onde o tempo parece teimar correr a uma velocidade bem mais prazenteira do que do outro lado da muralha do Rossio de Alcochete.
Aqui, as pessoas tratam-se pelo nome próprio; o dia não começa com caos das segundas circulares, CRELS, CRILS, dos eixos Norte-Sul. O empregado do café sabe exactamente como gostamos da bica; as pessoas permanecem confiantes no seu vizinho, o qual pode ficar com o bébé até a reunião acabar, ou na senhora padeira que guarda o pão até à hora da saída do emprego.

E sabem, a capital está à distância de um olhar. A "cultura", o "banho de civilização" a correria, os encontrões, as buzinadelas, são já ali, mesmo antes do virar da esquina,... mesmo em frente.

Mas não. Prefiro a província, à capital; o cheiro a Tejo ao odor a Atlântico; a mentalidade de aldeia à forma de estar da cidade; o bom dia do empregado do café ao gesto mecanizado da operadora de caixa do hipermercado. Em suma, o deserto (de stress) ao oásis de civilização. Pelo menos para viver...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Alma


Sou uma professora babosa.
Adoro despertar os meus “meninos”, como carinhosamente chamo aos meus alunos, para as questões científicas do quotidiano; levá-los a relacionar factos, formular hipóteses, enfim… Acordar aquelas mentes, ainda em construção, para a beleza da ciência, onde tudo encaixa na perfeição, onde tudo é causa e, simultâneamente, consequência.
Não raras vezes, tento confundi-los, ao tentar expor um determinado conteúdo (já sei que a palavra caiu em desuso…), provocar autênticas “brainstorming” que os deixam perfeitamente alucinados e ao mesmo tempo apaixonados pela descoberta.
Bombardeio-os com perguntas, aparentemente sem nexo, mas com o objectivo de os fazer pensar, reflectir, formular hipóteses e chegar a conclusões. Afinal não era assim tão sem nexo… ao fim e ao cabo, faz sentido…
E eles já se habituaram. Eles próprios tomam a iniciativa e questionam-me sobre o AVC que afectou um membro da família, ou os princípios da hemodiálise que o vizinho tem de fazer ou ainda sobre o porquê do pulmão direito ser diferente do esquerdo. Por vezes, dou por mim a falar na teoria da deriva dos continentes e a pedir-lhes provas que suportem essa teoria.
Mas hoje aconteceu algo diferente.
Hoje um aluno disse-me “Professora, posso fazer uma pergunta de Ciências mas que não está relacionada com a matéria que estamos a dar?”
“Claro, sabem que estão à vontade, se eu souber responder…”
“Professora, a alma tem peso?”
Ups… inspirei fundo, bem fundo, até às profundezas da “alma” e respondi “O que é a alma?” “Existe alma? Sob o ponto de vista religioso existe, sim. É algo de etéreo, invisível, sem peso, sem forma. Mas sob o ponto de vista científico será que existe alma?”
Respirei ainda mais fundo e continuei. “ Vocês sabem que por vezes a ciência choca com a religião. Vocês ouvem dizer que Deus criou o homem e a mulher, todos os animais e o mundo. Mas a Ciência contradiz tudo isso, com a Teoria da Evolução das Espécies. Religião e Ciência nem sempre estão de acordo.”
E por aqui fiquei. Considerei que estava a entrar num campo ingrato, ousar substituir a formação religiosa que só aos pais diz respeito decidir, colocar em causa o que pode ser para alguns uma verdade sagrada.
Senti o “peso” da limitação do professor. Reconheci que as “minhas” ciências, por vezes, podem ser feitas de verdades inconvenientes. Percebi que ser professora não me confere o direito de os confrontar com as verdades absolutas dos axiomas, substimando as crenças omnipotentes da religião.
Constrangedor, no mínimo…

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

As hormonas do mau feitio


Realmente, o ser humano é uma máquina complexa!!
Sob o ponto de vista fisiológico, como professora de Ciências da Natureza e admiradora incondicional deste feito único da mãe natureza, diria que funcionamos melhor do que o melhor relógio jamais inventado.
A harmonia e a conjugação de todas as nossas funções vitais não podem ser obra do acaso ou fruto de uma evolução “ad-hoc” das espécies.
Somos uma obra demasiada magistral. Em termos de funcionamento do corpo humano, daquilo que é a fisiologia, tudo se conjuga ao milímetro, ao segundo, “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Os produtos da reacção de uns sistemas são os reagentes de outro; os incómodos sinais que por vezes sentimos como a febre, a dor, os suores, as tonturas, …são os avisos, os alertas, os alarmes do organismo que disparam para realçar uma qualquer disfunção, quando algo está a deixar de encaixar neste puzzle tão excepcionalmente bem concebido.
O mesmo já não posso dizer que se passe ao nível emocional… enfim, a serotonina, essa malvada!!
Mas será mesmo unicamente ela a má da fita? Será mesmo este neurotransmissor o culpado das nossas neuras, dos nossos “tem dias”?
Coitada!! Cá para mim, a desgraçada é pau para toda a obra! E quando não é ela é uma hormona qualquer. A testosterona, a progesterona, a adrenalina, a tiroxina enfim, qualquer coisa que peque por excesso ou por defeito, mas que sirva para explicar por que razão hoje achamos uma pessoa bestial e amanhã achamos a mesma pessoa uma besta.
E se a culpa não for directamente destes distúrbios hormonais, há-de o ser da fase pré-menstrual ou até de uma menopausa precoce, que isto tem muito que se lhe diga, ora se tem!
Nós é que nunca podemos deixar de estar certos! A análise que construímos de nós e dos outros, pode variar, da noite para o dia, como variam as previsões do Boletim Meteorologico, que ora prevêem uma seca no Alentejo, ora alertam para o perigo da sobrecarga das barragens. No entanto, a culpa não é, de facto, do nosso feitiozinho desgraçado ou de não sabermos muito bem o que queremos, o que desejamos ou o que procuramos.

A culpa é das hormonas, essas malvadas, essas execráveis substâncias químicas!! Tão funestas, tão perversas que até nos enchem a cara de borbulhas durante a adolescência, exactamente quando deveríamos parecer belas e resplandecentes!
Claro que o pecado não é só delas, também não sejamos assim tão más-línguas!!
Há os desastrosos signos do Zodíaco, com os seus não menos comprometedores ascendentes, que nos ditam a sorte e a delicada forma de estar e ser, logo à nascença (pobres de nós!). E se temos o azar de nascer sob um signo de fogo… ui… nem queiram saber!!
Mas nós, seres civilizados, socializados, educados, instruídos, cultos, polidos, nós é que não temos mesmo culpa nenhuma destes “volte faces” do pé para a mão. As grandes culpadas são mesmo as hormonas!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Imaginarium


Olá!
Depois deste interregno bloquista, não vou escrever a Aventura da Neve, parte II.
Hoje, como aliás quase todos os dias, fui ao Forum Montijo.
Vagueava o olhar perdido pelas inúmeras montras que anunciam, por esta altura do ano, os fantásticos saldos e promovem as grandes pechinchas, apregoando, em parangonas, as fantásticas descidas de preço.
Sem saber muito bem o porquê, o meu olhar deteve-se nas duas portas de entrada do “Imaginarium”.
Já não entro naquele espaço há muito tempo, mas como um flash, lembrei-me dos saudosos tempos idos, quando os meus filhotes corriam até lá, medindo e disputando o crescimento entre si, pela altura daquela porta mais pequena.
Sempre que encontrávamos uma loja do Imaginarium, lá corriam os três, até à porta mais pequena, endireitavam-se o mais que podiam e tentavam a sua entrada, sem que a estrutura da porta lhe tocasse um fio de cabelo que fosse.
Anos a fio, cada vez que víamos um Imagimarium, repetia-se o rito.
Até que chegou o dia que um deles veio a correr e disse:
“Mãe, já não passo!! A porta dá-me por aqui” e apontava, todo orgulhoso, sensivelmente para o meio da testa.
Passados uns tempos, foi a vez de outro, vir a saltar de satisfação porque a porta pequena impedia a sua entrada.
Finalmente o outro, também ele deixou de ser “pequenino” e passou a ter entrada pela porta grande do Imaginarium.
Do Imaginarium e da vida, pois “Os homens não se medem aos palmos”…

E o tempo passa, corre, foge e o "Imaginarium" de cada um de nós, continua a comandar a vida.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Uma aventura (Parte I )





Muito se tem falado, nestes últimos dias, sobre a vaga de frio que assola alguns países da Europa e os EUA.
Eu gosto do frio… e acho que não sou a única.
A este propósito, deixo-vos uma história, contada na primeira pessoa, datada de Fevereiro de 2007.

“Filho, tenho de ir à Finlândia, de 2 a 7 de Fevereiro…”
“Mãe, estás a brincar, não pode ser!! Sabes que eu adorava conhecer aquele país. A luminosidade daquelas terras no Inverno, experimentar as temperaturas negativas, ver neve aos montes!! Mãe, leva-me contigo!
“ Mas tens aulas, não podes faltar! Para além disso não seria justo para os teus irmãos!!”
“Mãe, eu adorava…”

Acho que para nós os nossos filhos são sempre únicos, ímpares e os melhores do mundo. Não consegui resistir aqueles olhinhos de rapazola de 16 anos, que sempre mostraram um fascínio imenso pelos países nórdicos, pelos climas agrestes, pelos muitos graus abaixo do zero e fiz-lhe a vontade.

No dia 2, lá embarcámos, os três, às 5h50 da manhã, com a bagagem repleta de polares, luvas, gorros, botas de neve e todos os demais apetrechos para o frio. Ah! E as máquinas. De fotografar, de filmar, os telemóveis com câmara, tudo para registar aqueles dias que prometiam ser inesquecíveis.
Para o meu filho mais velho a viagem era também o seu baptismo de voo. E que baptismo… coitado!!
Lisboa – Munique e finalmente a esperada e desejada Helsínquia.
“Srs. Passageiros, dentro de 15 minutos aterraremos no aeroporto de Helsínquia-Vantaa, onde neste momento a temperatura é de 3º C, com chuviscos.
Esperamos que tenha apreciado a sua viagem. A TAP em nome da Star Alliance agradecem a sua preferência e .. blá, blá, bla…”
3ºC?? Chuviscos? Finlândia?? Não pode ser!!
Começou logo aqui a “birra” do rapazote (e com razão, diga-se de passagem). Até eu me senti defraudada! 3ºC!! No snow??!!
Restava-nos a esperança dos 3ºC de Helsínquia serem diferentes dos 3ºC de Lisboa. Mas qual quê!! A escala é a mesmíssima e a sensação “mais calorosa” uma vez que estávamos à espera do frio da terra do Pai Natal.
Vou passar à frente, deixar para outra altura a impressão com que ficámos da cidade e das suas gentes (incrivelmente diferentes).
Seguimos para norte, 300Km, muito perto do famosa linha do círculo polar.
À medida que seguíamos viagem, olhávamos para o painel que indicava a temperatura exterior, que teimava manter-se nos 3ºC! Só pode estar avariado!! Aqui a vida pára nos 3ºC! Não pode ser!!
Até que, lentamente, mas muito lentamente, começou a descer.. 2C, 1ºC, 0ºC. Foi a festa, 0ºC!!


Varkaus, que em português significa “ladrão”, foi a terriola onde ficámos hospedados. Umas casinholas de madeira, no meio da neve, com janelas desprovidas de cortinas ou estores, uma casa de banho perfeitamente nórdica, onde tudo é simples, tão simples que não sabíamos onde era o lugar do duche!! Depois de muito analisar a arquitectura do WC, descobrimos um ralo no chão e um chuveiro preso à parede, aí a uns dois metros de altura, bem alinhado com o dito ralo. Lá estava também a vassoura, para "varrer" a água do duche para o dito ralo.
Mas, por estas bandas, quem é que precisa de polibans com portas de vidro ou acrílico ou banheiras com cortinas de plástico??
Sentido prático, estético, económico, harmonioso…coisas que nós, lusitanos, não estamos habituados. Nada de “bidé”, rien de cortinas nas janelas, pas de estores, apenas o essencial e neve, muita neve.
Escusado será descrever a cena dramaticamente patética que eu fiz, na recepção. Perguntava onde estava o resguardo do banho, se não tinham quartos com cortinas ou janelas com estores. Apesar de estar munida de dicionário, aquelas palavras em inglês não tinham tradução verbal ou visual para o finlandês, portanto, por muito que falasse, gesticulasse, desenhasse, apontasse para o dicionário, a resposta do recepcionista era sempre e invariavelmente um encolher de ombros!
Como me iria despir antes de deitar? Só se fosse às escuras!! E tomar banho? Não chegava ao chuveiro, para o direccionar e tinha de ficar milimetricamente colocada perto do ralo!
Então e se alguém decidisse espreitar pela janela, fosse a que horas fosse? Como proteger a nossa privacidade?
Dispenso descrever a vibração e o entusiasmo delirante com que o meu filhote mais novo assistia a tudo aquilo. Fotografava, filmava, comentava, esmiuçava cada canto... Para ser perfeito, totalmente fantástico, só faltava uma coisa, os muitos graus abaixo de zero…

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Desassossego



Olá.
Hoje não estou para "festas".
Estou indignada com meio mundo e desiludida com o outro meio e por isso acho que vou fazer o jeito aos anti bloguistas e reclamar, barafustar.
Estou farta de hipocrisia dissimulada, de injustiça camuflada, de sorrisos cínicos, de mesquinhez encoberta, de sordidez consentida, de infâmia recompensada.
Estou cansada de ver o show off ditar as regras do jogo, de assistir a feiras de vaidades, a histerismos que disfarçam a ignorância, à presunção que substitui a verdade, à psicopatia que encobre a loucura de quem se entrega à demência pelo desespero de se querer esconder de si próprio.
E pronto. Disse.


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Casa da Música


Nem tudo vai mal neste país.
Hoje, li com alguma surpresa e muita satisfação que a Casa da Música (Porto) tinha sido escolhida como o quinto edifício da década pelo conceituado jornal Times!!

"A Casa da Música, no Porto, projecto do arquitecto holandês Rem Koolhaas, é "louco e perverso, mas brilhante", considera o Times, que o coloca em quinto lugar na lista. O primeiro lugar é ocupado pelo recentíssimo Neues Museum, em Berlim "

Já tive o imenso privilégio de realizar uma visita guiada à Casa da Música e, realmente, o que lamento é esta estrutura estar a mais de 300km de distância. Mesmo assim recomendo vivamente uma visita e este espaço, concebido para ser dedicado exclusivamente à música, em todas as suas vertentes.
Experiências como o aprender a ouvir, a fazer, a criar, estão abertas a todo o tipo de público, num espaço muito bem pensado e, a meu ver, melhor conseguido.
Vale mesmo a pena, acreditem!

P.S.: Já agora aproveitem a viagem e visitem outra das maravilhas do nosso país: o Estádio do Dragão, "caramba"!!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Um momento



Pensei participar na iniciativa de blogagem colectiva da Fábrica das Letras, sob o tema “Beleza”. Reflecti, pensei , puxei pela a minha já desfalecida memória e fraca imaginação em busca de “Beleza”. Beleza estética, beleza de sentimentos, beleza de um momento, beleza…
Pensei, claro, no nascimento de cada um dos meus filhos; na primeira vez que amamentei cada um deles; nas primeiras palavras que pronunciaram ou quando deram os primeiros passos.
Nada de mais belo e único, é verdade. Por muitas e muitas vezes que voltasse a ser mãe, viveria cada um destes momentos desfrutando do seu encanto único, como se fosse sempre a primeira vez.
Porém, acho que ainda não estou suficientemente “madura” nestas lides, para me aventurar numa blogagem colectiva; também, por outro lado, a beleza destes momentos é inenarrável, através das palavras que constam nos dicionários.
Lembrei-me de um outro momento, que julgo fazer parte da memória colectiva de muitas mulheres e igualmente imbuído da sua particular beleza: o casamento. Não é para integrar a blogagem colectiva, mas para partilhar um momento…

Era sábado, um sábado quente de Setembro, da década de oitenta.
Levantei-me cedíssimo, cumpri todos os preparativos e demandas que o dia exigia.
Cabeleireira, manicure, maquilhagem e o cerimonial de vestir aquele longo vestido que obrigava ainda a uma armação de aço por baixo, de forma a dar-lhe o efeito pretendido.
Veio o fotógrafo e foi foto de perfil, de frente, de costas, sentada ao piano, sentada na cama, no jardim, a entrar para o carro, com um pé dentro, outro fora, já devidamente acomodada, acompanhada pela madrinha, etc…;
Retrato com os primos direitos e os canhotos também; com os amigos, com os tios, os irmãos; com com o bouquet e sem o dito, enfim … horas.
Sempre fui pontual, até neste dia decidi que o iria ser. Avisei o noivo que estava pronta e sairia de casa 10 minutos após o telefonema. Se assim o disse, melhor o fiz.
Tratei de despachar todo o cortejo, estilo comitiva de abertura de festas, à frente do carro que me conduzia até ao Santuário da Nossa Senhora da Atalaia, onde se realizaria a cerimónia.
De braço dado com o meu pai, com um nervoso miudinho e ao mesmo tempo uma alegria esfuziante, própria dos 23 aninhos, eis que ao entrar na capela me deparo com ela vazia!!
Nem noivo,nem sinais dele. Nada de convidados da outra parte, ou de futuros sogros. Nada de futuros primos ou cunhados. Nada, apenas as flores que já esperavam de véspera, e nada mais.
Lembro-me da expressão aflitiva do meu pai, coitado, vestido a rigor, com um calor imenso, pensando que a sua primogénita teria sido abandonada, não no altar, mas à porta da igreja. Eu, sempre confiante, tentava desdramatizar a situação. Talvez um furo…, talvez uma súbita indisposição física, talvez se tivessem perdido no caminho (5 km em linha recta!), talvez qualquer coisa, desde que servisse para acalmar o meu pai.
Telemóveis era coisa que ainda não existia, pelo que só me restava esperar.
Determinada, decidi que os meus convidados entrariam, ocupariam um dos lados da capela e eu e o meu pai ficaríamos “resguardados” do calor e dos olhares piedosos dos convidados e da populaça que ocorre sempre aos casórios no Santuário, debaixo de uma varanda de um prédio das redondezas.
Ao fim de um bom pedaço, já não me lembro quem, veio avisar-nos de que o noivo e respectiva comitiva haviam chegado. Se estava impávida e serena, imperturbada continuei… o meu pai, esse mudava de cor de instante para instante. Ora estava vermelho, ora branco que nem cal, mas já podíamos entrar na capela.
Subi o Santuário, degrau a degrau, como estivesse a desfilar numa passerelle plana, sem esforço, sem cansaço, sem calor, sem o peso de um vestido imenso e respectiva armação, sempre feliz da vida. Já o meu pai transpirava com aqueles casacos e jaquetas e sei lá mais o quê.
Entrei ao som da marcha nupcial, tocada no órgão pela minha irmã.
A cada passo, sorria para um lado e para o outro da capela, saudava os convidados do noivo e ainda me lembro de ter pedido ao meu pai o último beijo, enquanto solteira.
Com toda a solenidade, fui entregue ao noivo, em pleno altar, prontinha para cumprir todo o ritual até ao SIM final.
Mas qualquer coisa faltava. Sem ninguém perceber o porquê, o rito não começava.
A minha irmã tocava e voltava a tocar a marcha nupcial, ora a de Mendelssohn, ora a de Wagner. Eu ajeitava o véu, arranjava o vestido dum lado e doutro, os convidados começavam a sussurrar, até que alguém se aventurou a perguntar:
“Então e o Sr. Padre?”
Bom, não sei que vos conte, mais de vinte anos depois… Só me lembro do meu pai, todo enfarpelado, morto de calor e já de algum embaraço, dizer “Eu vou buscar o Padre”.
Rodeada de convidados e flores, com o noivo ao lado e o fotógrafo que não se cansava de disparar a máquina de todos os ângulos, lá fiquei eu, sem Padre e sem pai.
Mal o meu pai saiu pela porta principal, eis que o Sr. Padre entra pela porta da sacristia. Pediu imensas desculpas, mas havia-se esquecido do casamento no Santuário…
“Vamos então dar início à cerimónia.”
“Não!! Agora quem não inicia nada sou eu! Enquanto o meu pai não chegar, não há início de coisa alguma!!”
Quase duas horas depois da hora marcada, e depois do meu pai correr todas as igrejas e capelas das redondezas em busca do Sr. Padre, deu-se, finalmente, início à cerimónia.
Foi um momento que teve a beleza sonhada por todas as noivas, mas com alguns percalços que ajudaram a fazer dele um momento ainda mais único, inesquecível e diferente.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Vida privada


Um dia destes uma amiga minha alertou-me para o facto do blog ser uma exposição da nossa vida privada. Quase como um diário partilhado com a enorme blogosfera, a grande aldeia global.
E depois?
Poderia escrever e guardar os escritos numa gaveta, arquivá-los numa pasta... são coisas da minha vida privada, de facto.
Mas decidi partilhar tanto os episódios mais caricatos do meu quotidiano, como assuntos que vêm "à baila", por este ou por aquele motivo.
Imaginem que todos criticavam e repudiavam a exposição da vida privada de todos e qualquer um de nós.Que futuro teriam as revistas cor de rosa, os paparazzi, os jornalistas do jet set e os próprios membros desta "ilustre" nata da nossa sociedade?
Como saberíamos que a mãe do CR 7 veste calções e usa boné?
Como tomaríamos conhecimento de que a XXX fez mais uma operação cosmética, a "pala" da publicidade gratuita à clínica espanhola, e ficou com uma carinha de 18 anos, embora tenha mais de 70?
E o drama que seria para pessoas como o famoso "marchand de arte" e sua americaníssima esposa, se deixassem de fotografar as suas fabulosas jóias e comentar as tremendas injustiças de que têm sido alvo?
Ou como desvendaríamos a forma de emagrecimento "fabulástica", rápida e sem cortes da apresentadora de televisão?
Por último, como ficaria eu a saber das últimas do meu "eleito", o charmosíssimo Richard Gere?
Vida pública ou privada, é vida. E a vida tem mesmo destas coisas.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Amigos


Hoje o meu irmão faz anos. 32, penso eu.
Já era uma mulherzinha quando ele nasceu e assisti, de muito perto ao seu crescimento, à forma benevolente e embevecida com que o meu pai acompanhava a formação daquele jovem, o "filho homem" que perpetuaria o seu nome e, enfim, encheria o seu ego próprio de uma cultura algo machista.
Precisamente porque me lembrei do aniversário do meu irmão, decidi escrever sobre os meus amigos.
A estes não nos unem laços de sangue, mas são eles que juntam todos os pedaços da nossa alma quando esta se parte em pedaços.
Geralmente, não nos lembramos de os ver nascer, mas são eles quem nos prova o sentido e a pertinência da nossa existência e acendem a lanterna, quando a luz ao fundo do túnel teima em não aparecer.
São eles que nos dão a mão, nos emprestam o anel, nos oferecem o sorriso, nos devolvem o ego perdido, nos brindam com a sua força, nos concedem o seu tempo…
Aos meus verdadeiros e autênticos amigos, muitos parabéns e muitos anos de vida!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

TWO THOUSAND AND TEN

Olá e bom ano.
Hoje não me apeteceu escrever.
Não existe dia do pijama, do chá e da torrada, mas, a existir, deveria ser precisamente o dia 1 De Janeiro.
Bom, decidi iniciar o ano com música. Espero que gostem... são apenas algumas.

Bom ano !!