by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A Alma


Sou uma professora babosa.
Adoro despertar os meus “meninos”, como carinhosamente chamo aos meus alunos, para as questões científicas do quotidiano; levá-los a relacionar factos, formular hipóteses, enfim… Acordar aquelas mentes, ainda em construção, para a beleza da ciência, onde tudo encaixa na perfeição, onde tudo é causa e, simultâneamente, consequência.
Não raras vezes, tento confundi-los, ao tentar expor um determinado conteúdo (já sei que a palavra caiu em desuso…), provocar autênticas “brainstorming” que os deixam perfeitamente alucinados e ao mesmo tempo apaixonados pela descoberta.
Bombardeio-os com perguntas, aparentemente sem nexo, mas com o objectivo de os fazer pensar, reflectir, formular hipóteses e chegar a conclusões. Afinal não era assim tão sem nexo… ao fim e ao cabo, faz sentido…
E eles já se habituaram. Eles próprios tomam a iniciativa e questionam-me sobre o AVC que afectou um membro da família, ou os princípios da hemodiálise que o vizinho tem de fazer ou ainda sobre o porquê do pulmão direito ser diferente do esquerdo. Por vezes, dou por mim a falar na teoria da deriva dos continentes e a pedir-lhes provas que suportem essa teoria.
Mas hoje aconteceu algo diferente.
Hoje um aluno disse-me “Professora, posso fazer uma pergunta de Ciências mas que não está relacionada com a matéria que estamos a dar?”
“Claro, sabem que estão à vontade, se eu souber responder…”
“Professora, a alma tem peso?”
Ups… inspirei fundo, bem fundo, até às profundezas da “alma” e respondi “O que é a alma?” “Existe alma? Sob o ponto de vista religioso existe, sim. É algo de etéreo, invisível, sem peso, sem forma. Mas sob o ponto de vista científico será que existe alma?”
Respirei ainda mais fundo e continuei. “ Vocês sabem que por vezes a ciência choca com a religião. Vocês ouvem dizer que Deus criou o homem e a mulher, todos os animais e o mundo. Mas a Ciência contradiz tudo isso, com a Teoria da Evolução das Espécies. Religião e Ciência nem sempre estão de acordo.”
E por aqui fiquei. Considerei que estava a entrar num campo ingrato, ousar substituir a formação religiosa que só aos pais diz respeito decidir, colocar em causa o que pode ser para alguns uma verdade sagrada.
Senti o “peso” da limitação do professor. Reconheci que as “minhas” ciências, por vezes, podem ser feitas de verdades inconvenientes. Percebi que ser professora não me confere o direito de os confrontar com as verdades absolutas dos axiomas, substimando as crenças omnipotentes da religião.
Constrangedor, no mínimo…

5 comentários:

  1. Olá. Mais uma vez vez li o seu blog. Parece-me que a temática gira à volta da Religião versus Ciência.
    Não consegui resistir e mais uma reflexão me suscitou a propósito do seu artigo.
    A definição etimológica de religião, uma palavra que provém da palavra latina "Religio", e à palavra religião são atríbuidas três etimologias.
    1- A etimologia que vê em Religio a evolução de "re- legere"( legere- ler ), proposta por Cícero.
    2- Vê em " Religio " a evolução -
    " re - eligere" ( eligere - escolher ), interpretação proposta por Santo Agostinho.
    3- Vê em " religio" a evolução de " re- ligare "( ligare - ligar ), foi proposta por Lactâncio.
    Contudo apesar da origem do significado da palavra religião, actualmente chegou-se a um consenso.
    Religião é:
    - O reconhecimento da existência da dividade;
    -por parte do homem;
    e o reconhecimento da dependência em relação à divindade tanto do Universo como do Homem de cada vida individual e da história da Humanidade.
    -juntamente com a exteriorizaçao deste reconhecimento e dependência por meio de diversas formas individuais e sociais.
    Portanto, a religião é o reconhecimento da " religação" ôntica e existencial, isto é, ao nível dor Ser e do Existir, do homem e do mundo com a dinvidade. Entada-se a palavra divindade em termos abstracto, a fim de abarcar todas as religiões, isto é, momoteístas e as degradações do Monoteísmo, as Henoteístas, as Politeístas, o Pantéismo e o Animismo.
    O sujeito da experiência religiosa é o Homem, na sua integridade psicossomática, por isso a religião se manifesta em todos os níveis humanos: razão, vontade, sensibilidade, imaginação, gestos e atitudes do corpo, etc.
    Importa referir, que na religião assenta na fé em algo. No acreditar.
    Por outro lado, o Cientista é o homem que faz Ciência.
    Será que o Cientista não coloca fé , razão, sensibilidade, imaginação, vontade naquilo que quer descobrir? Claro que sim! Seria impensável que o cientista, no exercício das suas funções, não colocasse fé,imaginação, razão, vontade, que acreditasse no seu trabalho e sensibilidade naquilo que ele quer descobrir.
    Por outro lado,parece, que cada vez que se descobre um segredo da vida, a religião perde um argumento. Seria legítimo concluir, portanto, que Ciência e a fé são incompatíveis.
    No entanto, tudo isto parece ter mudado desde o inicio do século XX. Inúmeros cientistas não exitam em dizer que a fé não lhes parece de modo algum contrária ao exercício da sua vocação. O próprio Einstein recusava-se a pensar que " DEUS joga dados com o Universo", e a ele devemos esta fórmula curiosa, menos conhecida do que a sua famosa equação, menos rigorosamente construída também, mas reveladora: " A religião sem a Ciência seria cega, a Ciência sem Religião seria coxa. "
    Assim sendo, Ciência e fé não são incompatíveis de forma alguma, e podem coexistir perfeitamente num mesmo espírito numa mesma alma.
    Por último, temos a questão da fé e o Big Bang, segundo Jean Guitton, no seu livro " DEUS E A CIÊNCIA". De acordo com a teoria, do Big Bang, o Universo teria surgido a partir de uma grande explosão, aliás a palavra Big Bang, significa Grande Bum.
    Se é verdade que o relato bíblico da criação se abre pela evocação de um "tohu-bohu", de um caos que evoca vagamente o informe caldo de partículas( mais exactamente: de quarks ) que teria sucedido ao Big Bang, é também verdade que o Envagelho nos diz : No principio era o Verbo, ou seja, a Palavra, e nenhuma outra coisa.
    Face ao acima descrito, não vejo em como a Ciência choca com a Religião.
    Devo dizer que aquilo que acabo de comentar estará sempre sujeito a comentários por pessoas especialistas nesta matéria. Desculpem-me os Teologos eos Cientistas, apenas partilhar a minha opinião.
    Gostaria de finalizar com a seguinte citação:

    Um pouco de Ciência afasta de Deus, mas muita aproxima.
    Louis Pasteur

    Célia Fonseca

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  2. Mais uma passagem no seu blog, antes de partir para Paris. Vou estar dois dias fora em trabalho.
    De facto, a Holanda, é um país maravilhoso. Tem razão.
    O que gosto mais são os jardins com as suas Túlipas.
    Astro Rei

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  3. Olá Céliam

    Sempre com reflexões pertinentes e oportunas. Obrigada pelo teu contributo. Bj

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  4. Boa noite, Astro Rei

    Se na Holanda apreciou as túlipas, espero que tenha tempo para em Paris, percorrer os Campos Eliseos.
    Suba à Torre, caminhe pelo Sena e visite o Louvre ou o D'Orsay, se ainda tives tempo.
    Bonne voyage.

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  5. Peço desculpa, por alguns erros ortográficos e de pontuação na minha reflexão sobre Religião versus Ciência.
    Acontece, que ao escrever um comentário extenso e de improviso, sem podermos lermos antes de o enviar, por vezes é uma tarefa complicada e por vezes traiçoeira.
    Por forma a esclarecer o sucedido.
    Onde se lê dividade deverá ler-se divindade.
    Onde se lê entada-se deverá ler-se entenda-se.
    Onde se lê Momoteístas deverá ler-se Monoteístas.
    Obrigado pela comprensão.
    Célia Fonseca

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Olá, então diga lá de sua justiça...