by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Natalite

No Natal de 1985, Elvira já viúva de um casamento que nunca havia celebrado, cansada da luta de uma vida feita de ganhar guerras e perder batalhas, deixou-se vencer pela batalha nostálgica a que chamam magia do Natal.
Certamente, o seu único filho que durante o ano a ia visitando a espaços, passaria lá umas horas antes da consoada, levaria até casa, partilhariam o fiel bacalhau e zás pás trás, à meia noite estaria tudo acabado, pois que o menino já nasceu, a meia noite  marca o tempo e esse dita o calendário e o Natal acabava assim.
Naquele ano, o tempo trocou-lhe as voltas e antes de ter tempo para pensar no bacalhau do Natal e nas filhós da sobremesa, a cabeça começou a andar a roda que nem a lotaria santa. Hoje tropeçava aqui, amanhã ali, depois acolá...
Um dia o tropeção foi tão grande que ficou de boca à banda, como o povo costumava dizer. Repararam então que havia tido uma sucessão de pequenos AVC's, tudo por conta da ansiedade do bacalhau...ou das filhós, ou seja, dele, do Natal.
Valeu, naqueles idos, a medicina já estar suficientemente avançada para lhe permitir o regresso a casa a tempo de a sentar à mesa no dia do bacalhau, não fosse, horas antes do fiel ser servido, a grande lutadora que eu sempre conheci ter revertido o seu estado clínico por completo, e do aperto do coração a crise passou para a largueza dos pulmões, em toda a sua plenitude.
Era mesmo uma declaração de guerra à confraternização cínica, hipócrita e fingida da época. Uma declaração de guerra profunda, visceral, para a qual as palavras lhe faltavam, mas que se podia ler no verde magnético dos seus olhos, nas altas febre que fez os doutores lhe diagnosticarem, sem demoras e margens para dúvidas, a doença de que Elvira padecia: natalite.
E de natalite ficou internada.
De complicações e efeitos secundários de muitas natalites mal tratadas viria a falecer, no mesmo hospital, um mês e três dias depois, antes, pois, que a pascoelite, pudesse agravar ainda mais agonia.
Feliz Natal, Elvira.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Obrigada Pai Natal!!

Ainda ontem escrevi uma carta toda laroca para ti, onde esgrimi o melhor que pude e soube os meus argumentos. Pedi uma prendinha simples e que para além de ser quase um desígnio nacional é uma prenda que fácil, fácil, fácil de conseguir.
Hoje, depois de terminar as reuniões avaliação de Natal, nas quais distribui sorrisos, cincos, quatros, elogios e água benta com fartura, nas mesmas em que rapei um frio de rachar os ossinhos todos, o que é que me ofereces, hem?????
Hem??? Diz lá, vá, confessa lá!!!
Conta lá a curva reta que eu fiz quando a direção assistida do meu carro resolveu fazer boicote aos movimentos circulares desesperados dos meus frágeis braços!!
Conta lá como é que conseguiste que o volante do meu carro, de um momento para o outro, em plena curva, me deixasse de obedecer e fosse direitinho contra o passeio do lado oposto da estrada!
Foi obra do Coelhinho, foi?? Estás feito com ele? Só podes!!
Já não há liberdade de expressão neste país? Já nem ao Pai Natal se pode fazer um desabafo, sem que as forças da opressão se manifestem, logo da forma mais ignóbil possível? 
Deus Nosso Senhor é Grande e não dorme!! Vais ver o que é as renas não obedecerem ao freio/bridão e ires direitinho ao equador!! 



Carta ao Pai Natal

Pai Natal,

Sou uma professora crescida e bem comportada.
Já fui tudo e mais alguma coisa na escola. Professora provisória, Quadro de Zona Pedagógica, Professora normalzinha, Professora Titular, Presidente do Conselho Diretivo, de Comissão Executiva Instaladora, de Conselho Executivo,  do Conselho Pedagógico. Diretora de Turma (o que gosto muito, para bué estranheza do pessoal), Delegada de Grupo, Coordenadora de Departamento. 
Já contei cadeiras, arrumei mesas, cortei fitas, escrevi ofícios, varri o polivalente, instaurei e instruí processos disciplinares, planifiquei aulinhas, dirigi reuniões, fui ao circo, elaborei PCTs, codifiquei provas de aferição, escolhi manuais escolares, adaptei currículos e readaptei as adaptações dos mesmos, escrevi atas, vigiei exames, validei concursos, pesquisei recursos educativos, etc...
Pai Natal, encara o que te venho pedir como um "dois em um". 
É um truque apenas, um truque de Natal, como só tu podes e sabes fazer e que terá um efeito multiplicador que te poupará as energias para Itália, Grécia e com algum jeito, ainda, Espanha.
É simples, além de ser uma velha e tradicional receita tua. Como prenda para este Natal, gostaria que pegasses no Coelhinho e fosses no comboio com ele o os outros Palhaços ao circo (romano), mas não os tragas de volta. Eles são fãs da imigração.

Um beijinho de uma professora bem comportada.



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

E já são DOIS!!

Depois de publicar o post "Habemus Papam" reparei na data: 1 de dezembro... 1 de dezembro é a data de aniversário do SHE.
Pois é, há dois anos atrás, enquanto se comemorava, com pompa e circunstância, os não sei quantos anos de uma data que agora estão interessados em deixar cair no esquecimento, estava eu a dar os primeiros passos nestas artes "netísticas".
Confesso que tenho tidos altos e baixos, agora mais baixos do que altos, mas o objetivo mantém-se. É o meu diário de bordo, para quando há bordo, quando há maré.


Habemus Papam

Quinhentas mil vezes apetece-nos abdicar, renunciar, "ipirangar" do papel que Deus ou a vida ou seja lá quem ou o que for nos reservou.
A maior parte das vezes a isso chamam "depressão".
A psi deste filme chamava-lhe "deficit parental". Eu vou nessa!