by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

A "Classe" da classe docente



Olá!!
Como todos os leitores das coisas disparatadas que me vêm à cabeça e escrevo sabem, sou professora.
Durante o ano passado, correu tinta e mais tinta, gastou-se papel e solas de sapato, usaram-se os meios electrónicos e os tradicionais, encheram-se praças, fizeram-se cordões humanos para se gritar, lamentar, barafustar a situação a que a classe docente tinha chegado.
Lembro-me de ler emails onde se provava que o dia de um professor teria de ter muito mais de 24 horas e a semana de trabalho seria forçosamente um múltiplo de 35 (que não o próprio número, pois todos os números são múltiplos de si próprios, se bem me entendem…).
De facto as contas estavam certas, mas o que também foi verdade é que ainda se afirmou “Perdi os professores, mas ganhei a opinião pública”. Nada de mais sábio!!
E eu sei o porquê. Não sabem?? Ora vejam:
Eis que me encontro em “férias”. Os nossos petizes chegaram à sua merecida pausa lectiva e os professores, essa classe que tanto reclama, está de férias. Que "Classe"!!!!
Antes das ditas começarem, elaborei, meticulosamente, um plano de ocupação do tempo de ócio. Pensei em pôr em dia as actividades domésticas, actualizar-me em relação à produção cinematográfica, ler uns livros top de propaganda controversa e gratuita (que ora põem em causa a força da Divina, ora lhe atribuem uma fúria capaz de destruir o universo); assistir a um ou dois concertos, tratar de papeladas e burocracias ligadas à minha condição de funcionária pública, (como por exemplo ver por onde param os meus recibos enviados há meses para a ADSE). Ah!, claro que ainda previ o tempo destinado à consoada e dia de Natal, assim como à despedida de 2009 e entrada em 2010.
Com alguma sorte, ainda me sobraria tempo para dar uma olhadela nos saldos.
É preciso ter sorte, não é? Mais, é preciso ter "Classe"!!
Mas não é que os meus planos saíram todos furados??!!
Ora essa!! Só pode ter sido desorganização da minha parte!! Duas semaninhas de férias...
Pois é, pois é. Tirando o dia 24 de Dezembro, em que foi decretada tolerância de ponto para todos os funcionários públicos, o Dia de Natal e o fim de semana que se lhe seguiu, estive sempre ao serviço da escola! Que professora, que vício,... que obsessão!!
Não liguem, não sou exemplo para ninguém.
A culpa é mesmo minha. Minha e de mais uns 100 mil docentes que não sabem gerir o seu tempo, como aqueles que fazem parte dos órgãos de gestão (agora chamados direcção), os directores de turma, os coordenadores de departamento, os docentes da educação especial, os dos projectos e os da avaliação interna, os ex-titulares, os só ex-professores, os contratados, os probatórios, enfim… os professores.
Porquê?
Ora, que pergunta!! Têm a mania que são bons! Não dispensam os papéis, as actas, as planificações, os planos educativos individuais, os PCTs e respectiva avaliação, o balanço dos conteúdos leccionados e por leccionar, os planos de recuperação, os de acompanhamento, respectiva apreciação e reformulação, as avaliações dos Planos da Matemática e do Português, as minuciosas, circunstanciadas e pormenorizadas justificações do óbvio, claro e por demasiado evidente.
Enfim, cismas extravagantes de uma classe que tem "Classe".

1 comentário:

  1. Olá.
    Precisamente por sermos uma Classe com "Classe", é que os sindicatos deveriam defender, a especificidade desta profissão.
    Uma profissão com especificidades muito próprias. Uma profissão altamente desgastante.
    Ora vejamos: Já alguém imaginou a "proeza" de um professor, em apenas quarenta e cinco minutos ou aulas de noventa, colocar jovens a pensar, a relacionar matérias, a resolver exercícios, a racicionar, mt vezes apenas conseguir que estejam atentos.
    Note-se, tudo isto durante um dia e dia após dia.
    Alguém já pensou, no desgaste físico, intelectual e muitas vezes emocional que um professor está sujeito diariamente ao conseguir tal proeza quando consegue.
    Alguém já pensou o que é ter turmas de trinta alunos, com interesses, ritmos de aprendizagem e dificuldades diferentes e em que o professor é o motor daquele grupo de trabalho.
    Alguém já pensou que a sociedade de hoje, valoriza a juventude e despreza a velhice. Por esta razão, como se consegue captar a atenção de alunos, quando o professor vai envelhecendo na idade e afastando-se da idade dos seus alunos.
    Bom deveriamos pensar que a pessoa mais velha é mais experiente e mais sábia. No entanto, a própria sociedade aponta para valores opostos. Quanto mais jovem e mais belo é sinónimo de competência.
    Alguém já imaginou, como será daqui a vinte anos, um professor com sessenta e três anos de idade e ter que dar aulas a alunos dez, onze, doze e na pior das hipóteses catorze ou quinze anos.
    Será que tem a mesma resistência, física e emocional para ser o motor do grupo ou seja dirigir o trabalho de uma turma.
    Por estas e outras razões que neste meu comentário não falarei, que exijo a "especificidade da profissão docente" em relação a outras profissões.
    Aqui está uma razão para os sindicatos e professores se unirem em torno de um desígno comum.
    Astro Rei

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Olá, então diga lá de sua justiça...