by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

sexta-feira, 5 de março de 2010

L'Enfant terrible



Tenho três filhos os quais, escusado será dizer, são simultâneamente o maior tesouro e a minha maior preocupação (frase feita, comungada por todas as mães, Ok).
No outro dia falei do mais velho, o Nuno. Aquele jovem que com sangue de Leão e garras de Águia, ultrapassou o impensável. Tal como Jean Cocteau disse, em tempos "Não sabendo que era impossível, foi lá e fez".
Este é o Nuno.
Que dizer do irmão, o Carlos?
Pois, tarefa tão difícil quanto ingrata, a deste menino que veio ao mundo com um propósito muito firme – dar um irmão ao Nuno, o quanto antes, que o pudesse acompanhar, estimular, ajudar…ser “ a bengala” do Nuno.
O Nuno não se lembra de como era a vida sem o Carlos. O Carlos nasceu e cresceu sempre com o seu destino previamente determinado pelos pais, mas traçado por Deus que viu nele mais do que o irmão do Nuno.
Os dois irmãos começaram a gatinhar ao mesmo tempo; a andar ao mesmo tempo; foram para o infantário ao mesmo tempo, para a mesma sala. Tinham, inicialmente os mesmos interesses, mas ao fim de meia dúzia de anos, o Nuno procurava os amigos para jogar à bola (o Petit Roger, era como lhe chamavam, por ser loiro e pequenino como o jogador do seu SLB), e o Carlos ficava em casa, agarrado à televisão. Vá lá alguém perceber uma coisa destas…
No entanto, sempre soube o papel que lhe cabia. Ajudar, amparar, auxiliar o irmão. Era vê-lo, aos seis anitos de idade, carregar a mochila dele e do irmão. Era vê-lo ajudar o irmão a lavar-se, mas partes mais íntimas, a que não chegava. Era vê-lo a crescer, dotar-se da sua própria personalidade, distinta da do Nuno, mas igualmente fantástica.
O Carlos cresceu, o Nuno já não precisa dele (acho que nunca precisou, pelo menos da forma como imaginei). Tornou-se um acérrimo defensor da Natureza, um jovem solidário, um vanguardista, mas ao mesmo tempo um menino que parece não ter crescido. Teve a vida sempre condicionada, eu sei…
Mas também sei que é o meu grande amigo. Também sei que, quando estive doente, bastante doente, o Carlos desesperou. Ficava noites a velar por mim.
Uma vez, num acto tresloucado de desespero, ao ver-me prostrada na cama, começou a pontapear tudo o que via pela frente, incrédulo, revoltado, céptico com o que lhe estava a acontecer. Pegou num bâton e expressou nas paredes do meu quarto, bem em frente da minha cama, a sua indignação. Um código muito próprio dele, que até hoje não consigo entender, mas foi a sua forma de expressão. A mesma frase, pintada na parede, lá continua como que a fazer lembrar -me dele e desse seu momento de desespero.
Mas não cresceu… talvez um dia tenha tempo para pensar em si e crescer. Hoje, é o que se pode chamar de L'Enfant terrible, que acredita piedosamente que tudo lhe vem parar à mão, caindo do céu, sem o mínimo esforço. Dedicou-se ao surf, escolheu fazer uma disciplina por ano(!), e talvez um curso de cozinha aplicada à química ou química aplicada à cozinha, não entendo bem... Passou no exame de código à primeira vez, mas faz questão de chegar atrasado aos testes da única disciplina que está a fazer… isto quando se lembra que tem testes…
Tão depressa mergulha a mão do irmão num copo de água a ferver, enquanto este dorme, como vai limpar praias ou plantar árvores não sei muito bem onde.
Do mesmo jeito que testa o efeito da deslocação do ar sobre duas velas acesas no porta-bagagens do carro, é capaz de se tornar vegetariano, porque ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém, seja porco, vaca ou galinha. Para ele são seres vivos e ponto.
É diferente do Nuno, tal como da Patrícia (fica para a próxima), mas é um ser humano igualmente fantástico e, acima de tudo, é meu filho.

7 comentários:

  1. Filhos..... A unica coisa que realmente nos pertence, aconteça o que acontecer....
    Felicidades pra todos.
    Beijinhos
    Bom fim de semana

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  2. Linda vai buscá-looooooooooooooo....
    ali »»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»» http://2010oanodamudanca.blogspot.com/
    Bjinhos :):):):)

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  3. O Carlos é o filho do meio. A sabedoria popular costuma dizer que esse filho é o que dá mais "trabalho". Isto é, aquele que não segue um caminho linear,um caminho que o conduza a um objectivo imediato.
    O Carlos anda a conhecer-se e a descobrir o seu caminho. Há-de encontrá-lo. Se calhar já o encontrou, apenas não sabe.

    Beijinhos

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  4. Carla,

    Obrigada pelo selo. e os nossos filhos são o melhordo mundo, não é?

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  5. Poi´é Natália. Parece que são sempre os piores!! Mas é um doce!!

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  6. Gostei de ler o que escreveste, porque só conhecia melhor o Nuno! Os filhos são todos diferentes un dos outros, temos de respeitar essa diferença e deixá-los seguir o seu caminho (mais fácil dizer do que fazer, eu sei bem!)
    Bjs

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  7. Teresa, pois o Nuno é para todos o nosso Nuninho.
    Mas o Carlos tb tem as suas qualidades (muito escondidas, mas tem).
    E quando escrever sobre a menina dos meus olhos, entaõ verás como são todos diferentes!!
    Bj

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Olá, então diga lá de sua justiça...