by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

domingo, 7 de março de 2010

Até ao cais

Não posso falar mais de 10min seguidos. Para uma tagarela como eu é um suplicio!!
As entranhas por onde passa o bolo alimentar e que foram “recolocadas” durante a cirurgia, inflamaram, ganharam uma espécie de quistos… pelo que também não posso comer… (bênção dos céus !!).
Juntando ao útil ao desagradável, resta-me mexer. Juntando o mesmo útil ao agradável, resta-me ler, ver filmes. Organizar fotos.
Há muito muito tempo, menina e moça e aluna da faculdade, todos os dias apanhava o barco para Lisboa. Saía no Terreiro do Paço, corria até à paragem do 32 que parava em frente da faculdade (e assim continua), ou, se tivesse mais tempo, subia a R. Augusta até ao Rossio,metia-me no metro (linha de Entrecampos), até à estação terminal, depois subia a Av. das Forças Armadas, até ao Castelinho. Ricos 20 aninhos e adorados 55 Kg.
Entretanto cresci (para os lados), deixei de ser aluna universitária, deixei de andar de barco e de metro.
Acontece que também a minha vila de província se tornou numa cidade e a cidade grande, Lisboa, numa metrópole moderna.
Ontem, entendi repetir a façanha. Não vou conseguir colocar em palavras o que é sentir-me uma velha provinciana, de quase meio século, no balbucio da cidade grande.
Comecei por sair de casa com uma hora de antecedência, rumo ao famoso “Cais do Seixalinho”. Já me é conhecido, de levar ou buscar alguém… (de carro). É já ali ao virar da esquina…
A corta-mato, cheguei até à estrada que acompanha o rio. Passei junto à “fazenda do avô” e aqui assaltaram-me as memórias de uma infância vivida no campo, das melancias que apanhávamos quando ali chegávamos e as colocávamos no poço a refrescarem, da apanha da ervilha, da piscina, das festas de aniversário, da carroça guiada pela minha irmã a subir a encosta a galope e perder os pregos pelo caminho, dos cavalos e do picadeiro diário que tinha de fazer, do meu avô sentado num fardo de palha a cortar a batata de semente “Estás a ver? Tens de deixar um olho em cada pedaço, é por este olho que vai nascer a batateira”. Ontem, olhei e vi aquela imensa língua de terreno verde, rodeada de prédios de um lado e fábricas de outro, imponente sobre o rio, com a antiga casa dos cavalos e das alfaias em ruínas, mas ainda virgem de prédios, armazéns… É como se a “fazenda do avô” fosse a terra do Asterix!
Para além da quinta começava o terreno desconhecido… um sol quente (tudo que seja mais de 16º é quente), alcatrão e mais alcatrão. De carro é sempre a eito, mas comecei a descobrir azinhagas, caminhos, atalhos….Uma estrada alcatroada, novinha, parecia cortar caminho. Meti-me estrada adentro, sem trânsito, com um cheiro cada vez mais nauseabundo “Devo estar na direcção certa, a maré deve estar baixa”. Depois de 500m, a estrada termina, abruptamente, com um muro e um portão – AMARSUL –(ETAR). Decididamente…. O meu faro sempre me conduziu a… E agora? Faltavam 40 min para o barco, e montes de alcatrão pela frente.Bora e meter-me a corta mato, por estes terrenos tão verdinhos….Aí…minhas ricas calças de ganga, meus ricos sapatos Aerosoles… Era poça aqui, charco acolá, barro no outro lado, lama à frente. Um sapo que saltou e quase que me fez cair para trás, as canas caídas que se esborrachavam debaixo dos meus pés, urtigas… Patinagem semi-artística. Escorrega aqui, caí acolá, faz a espargata mais à frente. Por fim, a estrada. Uma canseira brutal. Uma hora de caminho.
“Um bilhete ida e volta, por favor”.
“Cartão Lisboa viva ou sete colinas?”
“Não, é só o bilhete.”
“Mas tem de ter o cartão. Ok. Lisboa Viva, soa bem, a quem está quase morta.”
“ E onde posso comprar uma garrafa de água?”
“Hoje é sábado, está tudo fechado, agora só quando chegar a Lisboa.”
Decididamente, o outro lá tinha razão. Estava no deserto, cheia de alucinações, a ver água por todo o lado, mas não podia matar a sede.

2 comentários:

  1. Deveria, não apanhar humidade, procurar descansar/repousar.
    E depois? Chegou a Lisboa?
    Afinal, contemplar o rio Tejo, através de um passeio de barco, não é assim tão mau.
    Olhe, para a próxima não se esqueça de levar uma garrafa com água.
    Não esqueça, que à saida do barco , existe os comboios para linha....
    Bj

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  2. Existem combíos para a Linha? mas eu de Linha não tenho nada. Estou bem redondinha!!!

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Olá, então diga lá de sua justiça...