by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Uma aventura (Parte I )





Muito se tem falado, nestes últimos dias, sobre a vaga de frio que assola alguns países da Europa e os EUA.
Eu gosto do frio… e acho que não sou a única.
A este propósito, deixo-vos uma história, contada na primeira pessoa, datada de Fevereiro de 2007.

“Filho, tenho de ir à Finlândia, de 2 a 7 de Fevereiro…”
“Mãe, estás a brincar, não pode ser!! Sabes que eu adorava conhecer aquele país. A luminosidade daquelas terras no Inverno, experimentar as temperaturas negativas, ver neve aos montes!! Mãe, leva-me contigo!
“ Mas tens aulas, não podes faltar! Para além disso não seria justo para os teus irmãos!!”
“Mãe, eu adorava…”

Acho que para nós os nossos filhos são sempre únicos, ímpares e os melhores do mundo. Não consegui resistir aqueles olhinhos de rapazola de 16 anos, que sempre mostraram um fascínio imenso pelos países nórdicos, pelos climas agrestes, pelos muitos graus abaixo do zero e fiz-lhe a vontade.

No dia 2, lá embarcámos, os três, às 5h50 da manhã, com a bagagem repleta de polares, luvas, gorros, botas de neve e todos os demais apetrechos para o frio. Ah! E as máquinas. De fotografar, de filmar, os telemóveis com câmara, tudo para registar aqueles dias que prometiam ser inesquecíveis.
Para o meu filho mais velho a viagem era também o seu baptismo de voo. E que baptismo… coitado!!
Lisboa – Munique e finalmente a esperada e desejada Helsínquia.
“Srs. Passageiros, dentro de 15 minutos aterraremos no aeroporto de Helsínquia-Vantaa, onde neste momento a temperatura é de 3º C, com chuviscos.
Esperamos que tenha apreciado a sua viagem. A TAP em nome da Star Alliance agradecem a sua preferência e .. blá, blá, bla…”
3ºC?? Chuviscos? Finlândia?? Não pode ser!!
Começou logo aqui a “birra” do rapazote (e com razão, diga-se de passagem). Até eu me senti defraudada! 3ºC!! No snow??!!
Restava-nos a esperança dos 3ºC de Helsínquia serem diferentes dos 3ºC de Lisboa. Mas qual quê!! A escala é a mesmíssima e a sensação “mais calorosa” uma vez que estávamos à espera do frio da terra do Pai Natal.
Vou passar à frente, deixar para outra altura a impressão com que ficámos da cidade e das suas gentes (incrivelmente diferentes).
Seguimos para norte, 300Km, muito perto do famosa linha do círculo polar.
À medida que seguíamos viagem, olhávamos para o painel que indicava a temperatura exterior, que teimava manter-se nos 3ºC! Só pode estar avariado!! Aqui a vida pára nos 3ºC! Não pode ser!!
Até que, lentamente, mas muito lentamente, começou a descer.. 2C, 1ºC, 0ºC. Foi a festa, 0ºC!!


Varkaus, que em português significa “ladrão”, foi a terriola onde ficámos hospedados. Umas casinholas de madeira, no meio da neve, com janelas desprovidas de cortinas ou estores, uma casa de banho perfeitamente nórdica, onde tudo é simples, tão simples que não sabíamos onde era o lugar do duche!! Depois de muito analisar a arquitectura do WC, descobrimos um ralo no chão e um chuveiro preso à parede, aí a uns dois metros de altura, bem alinhado com o dito ralo. Lá estava também a vassoura, para "varrer" a água do duche para o dito ralo.
Mas, por estas bandas, quem é que precisa de polibans com portas de vidro ou acrílico ou banheiras com cortinas de plástico??
Sentido prático, estético, económico, harmonioso…coisas que nós, lusitanos, não estamos habituados. Nada de “bidé”, rien de cortinas nas janelas, pas de estores, apenas o essencial e neve, muita neve.
Escusado será descrever a cena dramaticamente patética que eu fiz, na recepção. Perguntava onde estava o resguardo do banho, se não tinham quartos com cortinas ou janelas com estores. Apesar de estar munida de dicionário, aquelas palavras em inglês não tinham tradução verbal ou visual para o finlandês, portanto, por muito que falasse, gesticulasse, desenhasse, apontasse para o dicionário, a resposta do recepcionista era sempre e invariavelmente um encolher de ombros!
Como me iria despir antes de deitar? Só se fosse às escuras!! E tomar banho? Não chegava ao chuveiro, para o direccionar e tinha de ficar milimetricamente colocada perto do ralo!
Então e se alguém decidisse espreitar pela janela, fosse a que horas fosse? Como proteger a nossa privacidade?
Dispenso descrever a vibração e o entusiasmo delirante com que o meu filhote mais novo assistia a tudo aquilo. Fotografava, filmava, comentava, esmiuçava cada canto... Para ser perfeito, totalmente fantástico, só faltava uma coisa, os muitos graus abaixo de zero…

1 comentário:

  1. Lembro-me dessa tua viagem. E sim, os finlandeses são muito sóbrios em termos de casas de banho. E não só. Como nos poderíamos adaptar?
    Porque é que teimam em comparar-nos com eles?
    Bjs

    ResponderEliminar

Olá, então diga lá de sua justiça...