by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Un, deux, trois – FIRE



Esta vai ser difícil. Penosa. Dolorosa.
Esta vai marcar o início “oficial” de uma caminhada. Estou farta de “sururus”. Não gosto de enviar mails para se lerem nas entrelinhas, nem “fazer caixinha” com assuntos reais, demasiada e dolorosamente concretos. Entendi que já chega de tabu. (Não do perfume que fez história, mas desse também já chega!).
Hoje saí do meu SPA, que afinal quer dizer “Sanum per Acqua” (a informação é à borla) e vim direita para a consulta de cirurgia do Hospital do Montijo. Again.
A última vez que lá estive foi no dia 1 de Abril, quando me foi comunicado o resultado da Anatomia Patológica da porção que me extraíram da tiróide ( à qual eu carinhosamente chamo de borboleta).
Nesse dia, entre trocas de cumprimentos, formalidades médico-legais, comentários sobre o tempo e sobre o fim de semana da Páscoa, lembrei-me de perguntar pelo resultado do exame da parte extraída da minha borboleta.
“Ah! Ainda não o li! Ora vamos lá ler os dois.” E como o Sr. Dr. até sabe que eu tenho uns conhecimentoszitos lá perdidos e muito vagos na matéria, desviou, amavelmente, o processo na minha direcção, de modo a facultar-me a leitura.
Os meus olhos, de lince, como alguém já lhe chamou, pela facilidade de captar o essencial, focalizaram-se de imediato naquela expressão que se repetia, por duas vezes: “Carcinoma papilar com ruptura da cápsula.”
O Sr. Dr. deveria ter o papel dentro do processo há cerca de uns dois meses, mas ainda não o tinha lido, confessava. Eu é que sou muito curiosa e perguntei pelo resultado da análise de parte da borboleta que tinham amputado, ia para quase dois meses. E agora? E agora, Dr? Tenho um câncro?!
Só me lembro de ter saído, ligado para um número e entre soluços e lágrimas dizer: “Papá, eram dois! Tinha dois câncros. Não sei o que deixaram. Vou ter de ser operada novamente e depois sujeita às quimioterapias e outras coisas tais. Os que tiraram já estavam fora das cápsulas.”
Os meus gestos mecanizaram-se. Entrei no carro de uma forma mecânica. Mandei uma sms para uma amiga que me devolveu perguntando se era a piada do 1 de Abril. E o resto não me lembro. Entorpeci. Desacreditei e voltei a acreditar. Apeteceu-me calar e gritar.Queria fugir e ficar. Chorar e rir. Fiz votos contraditórios. Promessas loucas, sem sentido, vãs.
Recebi as tristes notícias do falecimento de duas colegas, vencidas pelo mesmo bichinho e acho que foi aqui que comecei a reagir.
Valeram-me as amigas, as quais dispenso nomear. Valeu-me este espaço. Valeu-me cada um de vós e os vossos comentários às maluquices que ia publicando, ora dizendo que me calaria para sempre, ora dizendo que só publicaria ao fim de semana, ora falando num ciclo de vida que se fechava.
Valeu-me o meu SPA, pois cada vez que uma lágrima teimava em sair, lá estava todo o batalhão pronto para animar a “generala”.
E os meus filhos? L’ Enfant Terrible? Esse é o que mais me preocupa. Para já… um dia de cada vez.
Mas hoje, hoje decidi que a Ana é a “velha” Ana! A dragoa. Não é uma Leoa que se vê ao espelho todos os dias. É mesmo uma dragoa!
Deixo-me de lutas veladas e, como boa aldeã, enfrento o touro pelos c…… (Não digo palavrões, pois os EE…). Comecei, discretamente, uma luta, em nome de uma colega, ao colocar “a foto” do bichinho no blog com o título “Luta contra este bichinho”. Depois a imagem de uma cintigrafia da borboleta sã.
Hoje, fui direita a “Deus” em vez de passar pelo “Santo”. Fui falar com o chefe de serviço da cirurgia e tratar de acertar tudo para a nova “Knifada”.
Bem ou mal, tenho sido uma mulher de grandes decisões. “Dona e senhora” do meu destino; Capitã da minha alma. (a poesia inglesa está na moda). Tenho lutado pelo aquilo que quero e que acredito.
Sou a Ana, que ainda há uns dias atrás fazia a V., de 17 anos, rir até às lágrimas no SPA, apenas com a minha descontracção natural (ou humor nato, sei lá); ou que fez uma gaita algarvia de 51 anos repensar a sua vida até ao tutano, porque sou uma romântica incurável. Sou a mesma Ana, que teve força para conduzir os destinos de uma escola durante 11 anos. Sou a Ana que gosta de uma boa conversa, que adora uma boa gargalhada, que não teme um desafio.
Sou a Ana que de cada limão arranja sempre jeito de fazer uma limonada (quem se lembra desta?).
Ele pode vencer. Ele pode levar o meu corpo. Mas juro-vos, leva o pacote completo: O corpo, a persistência, a perseverança, a firmeza, a teimosia, a paixão, o sonho, o humor e o sorriso. Tudo junto et ensemble.



10 comentários:

  1. Ana Estou muito orgulhosa de ti. Deixa-me dizer-te que li este post com lágrimas nos olhos. Esta é que é a Ana que eu reconheço. A Ana com quem nem sempre estive de acordo, com quem discuti quando calhou, mas que sempre respeitei pela sua coragem e frontalidade. Continua a ter coragem, amiga. Os casos não são todos iguais. Vais ver que, com a tua força, vais vencer. Até o bichinho vai ter medo de te enfrentar!
    Muitos beijinhos para ti.

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  2. Querida Ana,

    Ele não vai levar nada. Ele não vai levar a Ana corajosa, lutadora, bem-humorada.
    Vais vencer esta batalha. Podes chorar, sentir que as forças por vezes se vão, mas vais também continuar a acreditar em ti, no teu optimismo na tua capacidade de vencer esta adversidade.
    Cada caso é um caso. Há muitos casos de sucesso e eu sinto que tu és um desses casos. Deixa-te contagiar só por pensamentos bons. Continua a escrever neste blogue.
    A vida, como tu bem sabes, é uma constante luta e tu vais continuar a lutar contra esse bichinho.

    Beijos virtuais

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  3. Babe,

    Que mais dizer que não tenhas dito já?
    Na medida das minhas (curtas) possibilidades, count on me.

    Um abraço do fundo do pêto (acho que estes são os melhores ;-)

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  4. Olá, Teresa
    Ao fim de tantos anos ainda te faço "choramingar"? Já devias estar habituada "à velha Ana"!! Pois, a intenção é mm essa, assustar o bicharoco. É que até o Pompom e o meu Poully fugiram de mim. Só mm a Julieta é q me fez frente!! Quem sabe se este tb não foge???
    Bj

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  5. Natália,

    Eu sei que vou vencer! Posso ter os meus momentos menos bons, mas vou conseguir, vais ver que sim.
    bj

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  6. We,
    Está tudo dito, né?
    Venha de lá esse (curto) monte de ossos:))
    Bj

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  7. Olá
    Não está tudo dito, não, Ana F. Continuas a ser, como tanta vezes pensei, a mulher das Ciências, com mais talento para as escritas e para a Gestão. Uma das mulheres com mais garra de Leoa embora teimes em ser Dragoa, com olhar de Lince, com força, memória e coração de Elefante. Força amiga, mostra a todos quem é a Ana F!
    E sim, lembro-me bem do limão e da limonada...

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  8. Anónimo (a?),
    Tantos elogios???É para desconfiar!! Bom, não quero paracer ingrata, mas para ser o Zoo completo falta pouco!!!!
    De qq forma, vê-se que o caro(a) anónimo é da velha guarda, certo? Atrevo-me a dizer...uma, duas, tantas? Não?
    Bj

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  9. Uma, duas, tantas? Não entendo, Ana F.
    Uma, duas, muitas. Muitas e muitas vezes te vi enfrentar dificuldades, fazeres das fraquezas de muitos a força de tantos, de uma escola. Portanto, que é isso agora? Uma limonada, minha querida. E deixa essa tua curiosidade sossegar, só desta vez. Um beijo muito grande.

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  10. Ok, Anónimo. Parece que não sou a única das letras, ou por outras, com jeito para as letras, minha querida (é que não conheci nenhum homem com jeito para as letras).
    Agradeço o beijo grande.
    Ana

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Olá, então diga lá de sua justiça...