by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Novembro

Tão inevitável, como inacreditável, como irritante, como temporalmente desajustado. As luzes, as estrelinhas, os pinheiros, os anjinhos tocadores de lira ou de uma espécie de vouvuzela dos tempos do éden, os pais natais, os laçarotes vermelhos, as estrelas cadentes vindas de todos os pólos, os trenós puxados a renas ou a mercedes topos de gama, a neve feita de algodão amargo, de esferovite, ou de pesadelos que se antecipam com dois meses de antecedência, as árvores  e os arbustros das avenidas grandes e das veredas pequenas que de repente ganham novas e luminosas flores multicolores fecundadas por cabos eléctricos, as montras preto, prata e vermelho e a música. Oh! a música, so fantastic. O coro da capela sistina, ou das meninas do colégio do sagrado coração, uma noite feliz e de amor, uma em 365, já não é mau de todo, porque nesta noite brilha brilha lá no céu a estrelinha que nasceu, nas outras noites o céu é penumbra, como se penumbra não fosse sempre a vida de quem não tem natal. Mas o menino está dormindo nas palhinhas despidinho, e os anjos estão cantando por este que não teve frio, que sorte a dele, pois muitos outros dormem em camas, mas têm frio, um frio que não vai embora nem com cantigas, nem com edredons, nem com estrelinhas, nem com jingle bells. Um frio que se instala quando a hipocrisia do natal do consumo desperta e dura e dura e dura, porque é feito de pilhas duracell, daquelas que o coelhinho da páscoa usa.Mas outros há para quem o frio é mesmo real e que não têm cama, nem de palhinha,  nem pilhas duracell e olham para aquelas estranhas flores eléctricas das árvores que lhes servem de tecto todas as noites e perguntam se os anjos da canção também não cantam por eles, ou se os senhores da televisão que falam de contenção são doutro país, ou será contenção uma outra palavra qualquer, ligada a contentores do lixo, será que vão cortar o único local onde eles conseguem arranjar papelão para se cobrirem e restos de alimentos. Sim, de resto em nada mais eles vêem cortes, a cidade está tão iluminada como sempre esteve, os senhores saem carregados das lojas como sempre saíram, e o natal começou em novembro, como sempre começou. Mas as cantigas continuam e desejam a todos um bom natal, como o john lennon imaginava o mundo, assim esse mesmo mundo deseja oum bom e feliz natal a todas as famílias unidas no coração do grande e maravilhoso criador, seja lá ele quem for.
Christmas Nigth
Paul Gauguin

15 comentários:

  1. Concordo com vc..
    Que Deus te abençoe com bençãos sem medida!

    Sejas feliz neste dia e em todos os demais,boas energias!

    Abraços,
    Mari

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  2. Que texto criativo, com a crítica e a ironia tão acutilantes, para esta época do ano de tantos artificialismos! Esta época natalícia cansa-me!...
    Beijos.
    Manuela

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  3. Olá, Ana.
    Mais um artigo com uma escrita intensa , criativa, efim agnifico.
    Quanto à temática, como já sabes o que eu penso, uma época da "TRETA" e utilizando a ideia da Manuela. Pois, concordo com ela inteiramente, uma época terrivelmente cansativa. Só de pensar cansa. A história das palhinhas, do burrinho, mais a estrelinha, e o resto da família, já perdeu o encanto, nem as luzes e as iluminaçoes a tornam mais atractiva. O Pai Natla já ninguém suporta. No entanto o cliché continua, aí vem o Natal.
    Não há quem aguente! Talvez um recém -nascido ...quem sabe...
    Bj.

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  4. Querida Ana

    Como sempre, adorei ler-te. Escreves bem. Muito bem. Escreves com o coração, a tua sensibilidade sem par.
    Este natal será mais uma vez diferente. Mantém-se a tradição, mas não o espírito natalício.

    Fica muito bem. O meu anjinho anda por aí a visitar-te e a proteger-te.

    Beijinhos cheios de luz

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  5. Excelente texto, no qual me revejo. Se me permite, vou reiniciar a minha rubrica Pelo país dos blogs, fazendo link.

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  6. @ Maria

    - Não sei como é esta época além Atlântico, mas aqui é assim...
    Bjs

    @ Manuela

    - Obrigada pelas palavras. É bom saber q não é só a mim q este cansaço invade, ano após ano.
    Bjs

    @ Maré

    - Perdeu-se o encanto do verdadeiro natal. Cansa, desespera, desilude. Só apetece fechar as janelas, fazer as malas, emigrar para marte e regressar só em janeiro, não é?
    Bjs

    @ Natália, minha querida

    - Acho q exageras na apreciação dos "meus dotes", sobretudo vindo de quem vem. mas qd se escreve com o coração é assim... Obrigada por tudo, por me leres, por pensares e mim e pelo teu anjinho estar comigo tb. Bj grande.

    @ Carlos
    Obrigada pelas suas palavras. Será uma honra ver o SHE linkado nas CR.
    Bjs

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  7. Olá, companheira.
    È isso mesmo! Emigrar e só voltar quando tudo estiver encerrado. Ou então, não fazer "niente" e ficar a olhar as iluminações.
    Bj.

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  8. Olha Ana, por vezes apetece rasgar o Natal...
    por vezes, apetece abraçar o Natal...

    Podemos fazer melhor sempre.
    É fazê-lo à nossa maneira.

    Beijo para ti

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  9. Pura verdade!!!
    Materialismo, hipocrisismo, egoísmo...

    Que sejas feliz sempre...sempre!!!

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  10. ORA AQUI TEMOS UM TEXTO MARAVILHOSAMENTE BEM ESCRITO...INTELIGENTE, UMA CRÍTICA MORDAZ...FAZ-ME LEMBRAR QUE UMA VEZ, HÁ MUITOS ANOS, UM COLEGA VOLTA-SE PARA MIM E DIZ: SE JESUS CRISTO VIESSE DE NOVO À TERRA?!...O GAJO TINHA LOGO UM ENFARTE!!!

    ESTÁS COBERTA DE RAZÃO,HÁ MUITA HIPOCRISIA.ESTA TRETA DE PAI NATAL ...MENINO JESUS...E AFINS ...TUDO PARA CONSUMO...SÓ PARA CONSUMO!!!
    É EXCESSIVO!!!

    BJS

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  11. @ MagyMay
    - Pois... Já me apeteceu abraçar, qd era criança. Agora, estou mais para o lado de rasgar.... Obrigada pelo comentário. Bjs

    @Angels
    - Muita hipocrisia, não é
    Bj grande para ti.

    @Pedras
    - Ai, tantos elogios é capaz de haver inundação até na Madeira, com a minha baba;.)). E logo de quem vêm!!
    Bj grande!

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  12. Chegueí aqui através do crónicas do rochedo e pareí, senti, gosteí... muito, mesmo muito! Tb sou carneiro fiel, mas não foi isso que me prendeu às suas palavras. Foi a sensibilidade extrema de quem sabe o que sente, de quem diz o que sente - acima de tudo de quem SENTE ainda...
    O mundo faz-se cada vez mais de uma demolidora indiferença e apatia, revejo-me em pessoas que ainda sentem, apenas não sei expressar-me tão incrivelmente bem!
    PARABÉNS pelo excelente texto... É isso tudo e mais algumas coisas que sinto.
    Abraço
    Cristina

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  13. Atena

    Quando se sente as palavras saem com toda a naturalidade. Muito obrigada pelo seu comentário, mas receio não merecer tantos elegios:-))
    Volte sempre, com as CR ou sem as CR.
    Ana (tb Cristina)

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  14. O Rochedo trouxe-me cá e tinha razão, deixo o aplauso que merece. É um texto incisivo, que decobre o véu hipócritca desta época, do esquema consumista instituído para celebrar uma tradição numa rotineira sucessão do dia disto e do dia daquilo.

    Abraço

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  15. Segui as indicações do Rochedo e vim cá ter. E vou voltar porque muito me agradou o que a Ana escreveu sobre a hipocrisia do natal deste tempo de fazer de conta que todos se amam e se dá mais atenção aos que durante o resto do tempo andam à míngua de tudo.
    Um abraço

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Olá, então diga lá de sua justiça...