by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Entre o Barhein e o Quatar

Devo ser das poucas pessoas que ainda têm o imenso privilégio de passear os olhos pelos jornais, enquanto se deliciam, prazenteiramente, com o seu pequeno almoço.
Mando a crise às urtigas, aproveito as férias prolongadas que o meu "duplo carcinoma papilar tiroideu" me proporcionou  e junto a isso o imenso privilégio de viver na margem sul, na outra margem sul, naquela de onde se desfruta do Tejo, da qualidade de vida ainda a preços razoáveis, de pessoas simpáticas (como eu), de espaços agradáveis e de croissants deliciosos.
E ai vou eu, toda pimpona, instalar-me no meu "Coffee for You" do Montijo Forum, onde já sabem exactamente como eu quero o meu galão, meio copo de galão, meio copo de espuma de leite e  o meu croissant mal cozido, ocupo a mesa lá do fundo, abro o Público e ali fico, depenicando o meu croissant ao mesmo ritmo que as noticias do Público me enfurecem ou simplesmente me passam ao lado.
Mas ontem o croissant ficou quase intacto com esta notícia. Mortes por violência doméstica...?? 247 mortes por violência doméstica? 

Andamos a discutir a entrada ou não do FMI;  apregoamos aos sete ventos que Portugal deu 4-0 à campeã da Europa e do Mundo em futebol; unimos as vozes para denunciar a corrupção que se assiste neste país; levantamos as bandeiras da Paz contra a Cimeira da Nato; fazemos nossas as causas de outros povos, de outras mulheres vitimas de leis infames, como a da morte por apedrejamento.... e...e a violência doméstica? Calamos? Até onde vai este bicho? Conseguem imaginar? 
Conseguem imaginar o que está a montante da fase visível de uma morte por violência doméstica?
Ou mesmo de um olho negro de uma colega nossa que, "coitada, escorregou no tapete, quando, de noite, se levantou para ir tapar o filho?"
Conseguem imaginar a violência psicológica que quase sempre antecede a violência física e, c'os diabos(!), ainda por cima não deixa marcas visíveis!!
Os ciúmes porque vestiu uma mini-saia ; a dependência económica pois o homem é sempre mais bem pago no raio desta sociedade, mesmo que garanta só os serviços minimos; o medo; o preconceito; ....? A falta de apoio da própria família??!!
Um polvo  que vai cercando, cercando, e ele (ela), aproveitando, aproveitando. Até  chegar ao fim, à total asfixia..
Conseguem  imaginar as marcas psicológicas que ficam gravadas nos filhos destes casais quando assistem a este tipo de situações (e quase sempre assistem!), e perduram anos a fio? E quantas vezes vêem eles a reproduzi-las?
Conseguem? 
Onde estão as bandeiras, por estas mulheres e homens vitimas destes maus tratos? Onde está a nossa luta?
Onde está a mensagem que temos por obrigação passar aos mais novos? Educar, civilizar? Não, não temos?
Só se fosse no Barhein?
Ah!Ok!

Frida Khalo

2 comentários:

Olá, então diga lá de sua justiça...