by Ana
Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.
domingo, 27 de novembro de 2011
sábado, 12 de novembro de 2011
Latifúndios
Sempre fui de tudo ou nadas. Mais de tudo do que de nadas, confesso.
Nada de quases ou mais ou menos, ou de próximo de.
Do mesmo modo que latifundiava o meu coração, rasgava os meus sorrisos ou gritava os meus queixumes.
Porque não era de entrega por partes, nunca entendi os números racionais aplicados às emoções, ou ao trabalho, ou à vida, ou seja lá aquilo que fosse e que me envolvesse.
Durante anos a fio fiz regadio intensivo da cultura da menina perfeita. Em tudo e sem margens de manobra para o quase. E ai da estrela que descesse do céu para o desmentir ou do pássaro que pousasse na janela da avó para semear a dúvida. A menina, a neta, a aluna perfeita. E essa era a a cultura, sem pousios, que havia plantado no meu latinfundio. E era o tudo.
O avô, que era agricultor e homem da luta, olhava para mim com aqueles olhos um terço doces, um terço embevedecidos, um terço preocupados, como que a querer dizer-me que até os latifúndios precisam de alternância de sementeiras. Mas eu nunca entendi números racionais e o olhar fracionado dele, para mim, mais não era que a multiplicação dos olhares. Era olhar de bisavô, avô, de pai, de amigo, sei lá...Eu, os latinfundios e de tabuadas só a de multiplicar. E depois, como que a dar-me razão, havia a avó, cujo o olhar era como o meu, latifundiava tudo por onde passava!! E zás, páz, tráz, era um tudo por tudo, que nadas ou quases, não eram com ela!
Daqueles olhos verdes magnéticos da minha avó, que não conheciam uma letra do tamanho de um burro, mas sabiam a tabuada de multiplicar toda na ponta da língua e repudiavam tudo o que fosse fracionar, fiz a minha rosa dos ventos e parti para o latifundiamento de mim, com regadio intensivo, sem direito a pousios nem modernices de reformas agrárias. Tudo à maneira da minha avô.
Foram hectares a perder de vista da cultura emocional híbrida Parvo-esperançosa, bem junto à saída da artéria aorta; do outro lado, perto da entrada da aurícula esquerda, mais não sei quantos ares duma outra cultura experimental, Dodeixandar.
Junto ao ventrículo direito, à saída para o pulmão, onde se pretende ar fresco, ai aí... aí foi a desgraça total: fui latifundiar, anos e anos a fio, esses preciosos hectares com a cultura pura do Insiste. Ia indo à bancarrota mais cedo que o país, não tivesse sonhado, um deste dias, com o meu avô.
Foi isso que me valeu, sonhar com esse homem do sec. XIX, agricultor, que viveu duas guerras, duas repúblicas, a revolução dos cravos, a reforma agrária, e viu a Gabriela, cravo e canela. Disse-me ele, no sonho, que a economia evoluiu e a agricultura também. Que agora quem domina o mercado já não é a America e que o velho sonho europeu já era. Que a Merkel qq dia está tão arrumada como o M. Soares.
Disse-me que devemos arranjar várias bengalas, pois corremos o risco de sofrermos de osteoporose precoce e uma só bengala é pouco. Disse-me que o mundo qq dia é dos chineses e por isso devemos aprender com eles e trabalhar como eles.
Acordei a pensar que vou latinfundiar arrozais.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Para as minhas memórias
Tenho falado pouco de trabalho ( tenho mesmo?), mas há coisas que são tão encantadoramente doces de ainda tão ingenuamente pueris, que não consigo deixar de registar neste meu qualquer coisa cibernético.
Sempre que nos perguntam as habilitações literárias existem termos, definições, chavões, pomposidades, títulos que nós, adultos, fazemos questão de ostentar, decorar, trazer na ponta da língua, dourando a pílula o mais que possível.
Ninguém é lojista, agora é-se gestor comercial; ninguém é manicure, mas designer de unhas e por aí adiante
Na primeira aula, à semelhança do que se já fazia no meu tempo de menina e moça, pedi aos meus meninos que preenchessem a ficha da caderneta. Umas das perguntas é, como era, "Qual a habilitação literária do pai/mãe". Claro está que tive o cuidado de explicar o significado da terrível e inusitada expressão coscuvilheira, trocando-a, o mais possível, por os miúdos mais básicos que me vieram à memória.
Para que fique registada a nulidade que devo ser enquanto professora, transcrevo algumas das respostas que obtive:
Habilitações literárias do pai : Vivo com a minha avó (obviamente - habitação)
Habilitações literárias da mãe: A minha mãe estudou muito até ir trabalhar para uma escola
Habilitações literárias do pai: Não sei quais são, mas com sertesa são muitas
Habilitações literárias do pai:O meu pai tem muitas habilidades literárias
Quem pode resistir a tanto charme, digam lá?
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Sexo e matemática
Com esta história da crise, das medidas impostas pela troika, das "gorduras" orçamentais acho que tudo pode servir de pretexto para equilibrem o orçamento da Nação.
Ora, o nosso primeiro, depois de cortar, desmesuradamente, no subsidio de Natal , aumentar o iva do gás e da electricidade, subir escandalosamente os transportes, decide acabar com a comparticipação das vacinas e dos contraceptivos.
Vistas bem as coisas, corta agora, gasta depois a tratar uns tantos (muitos) cancros do colo do útero, a não ser que a próxima medida seja, efectivamente, o fim do célebre SNS...
Quanto aos contraceptivos, cá para mim, essa tem dedo do Nuno Crato. As mulheres e as adolescentes que tornem a fazer continhas de cabeça, à moda da minha bisavó que teve doze filhos fora os ameaços, enquanto estão em pleno acto sexual, que isso só estimula o raciocínio matemático, a lucidez de espírito e a consciência cívica. Afinal, não é assim tão difícil. Entre um ai e um ui, ...
- Espera lá, não venhas já que ainda tenho de ir ver no Ipad quando foi o último período e acrescentar quantos? 14? Epá? Isso dá quanto? Raios, passa do dia 30! E agora passa para o outro mês...afinal quantos são hoje?Tens máquina de calcular?
- A do telemóvel serve? É que o puto já não leva máquina para a escola, o ministro proibiu!
Exercício mentais deste são fascinantes, estimulantes, enganam o amigo Alzheimer, inclusive.
Nem tudo são espinhos, a natalidade promete crescer de vento em popa e as reformas da gerações futuras estarão, seguramente, garantidas.
Alguém falou em aborto às resmas? ah, logo vi que não!
A isto é que se chama governar!!
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
GATAS
Finalmente!!!
Foi impressão minha ou o blogger esteve em greve às mensagens durante o dia de hoje?
Bom, pas très grave.
Em homenagem às minhas filhas adoptivas, a Julieta e a Batatinha, às quais me encontro entregue por tempo indeterminado, mudei o visual do blog.
Assim espero, também, que as línguas viperinas, maldizentes e invejosas se calem e parem de comentar as minhas fotos, o meu encanto e o meu charme natural.
Foi impressão minha ou o blogger esteve em greve às mensagens durante o dia de hoje?
Bom, pas très grave.
Em homenagem às minhas filhas adoptivas, a Julieta e a Batatinha, às quais me encontro entregue por tempo indeterminado, mudei o visual do blog.
Assim espero, também, que as línguas viperinas, maldizentes e invejosas se calem e parem de comentar as minhas fotos, o meu encanto e o meu charme natural.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
SHE
Já tinha dito que está é a música da minha vida?
Ainda não?
Pois, então digo-o agora!
É esta, com esta voz. SHE,... she, ououou, she....!
Ainda não?
Pois, então digo-o agora!
É esta, com esta voz. SHE,... she, ououou, she....!
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
quinta-feira, 28 de julho de 2011
SHE (I)
Os seus braços redondos, próprios dos noventa e muitos quilos de peso, dificultavam a tarefa o suficiente para que aquela agulhinha espetada naquele pedaço de gordurinha fosse tratada que nem um bebé acabadinho de nascer.
A primeira tentativa de infortúnio e má sorte tinha sido feita na noite anterior, pela enfermeira de serviço mas, obviamente, em vão.
Madrugada cedo, já no bloco operatório, o bracinho de Isabel viria então a merecer honrarias de braço de chefe de estado, dado que só a perícia, ou a paciência, da médica anestesista conseguiram o milagre do achamento da veia, tal terras de Vera Cruz no meio de milhas e milhas de oceano. Sabia-se que estava lá, só não se sabia ao certo onde…
- Não mexa esse braço, Drª Isabel. Se perdemos essa veia, não encontramos outra!
- Estejam descansados, vou portar-me bem. Mas isto está a doeeeer…! Parece que está a infiltrar!!…
- Ora deixe cá ver? Infiltar???Qual infiltrar qual que! Que nada! Se estivesse a infiltrar já tinha aqui um papo do tamanho do seu pulso! Isso é impressão, é nervoso miudinho. Aí..., esta senhora doutora. Nem parece que é uma mulher cá dos nossos meios. Quantos filhos tem a Drª?
- Três, fora os ameaços. Se a memória não me falha terão sido outros três.
- Hum… isso é que é o que se chama mulher valente, Drª Isabel - retorquiu a enfermeira. Ia sendo meia dúzia, hã! Casa de ferreiro, espeto de pau e é bem certo!
- Mulher valente…? Pois, não sei, não. Não tinha grandes alternativas, os tempos eram outros. Para o bem e para o menos bem e, seja lá isso o que for, hoje há a chamada Educação Sexual, que parece começar mal os miúdos acordam para a vida.
- Tem razão, mas teve três filhos e está a queixar-se de dores por causa de uma coisinha destas? Nem sequer tem agulha lá dentro, sabe? Isso era antigamente. Agora é praticamente um fiozinho de plástico muito maleável que fica dentro da sua veia. Relaxe que vai tudo correr bem.
E o vai tudo correr bem continuou com mais uma transferência da mercadoria a retalhar. A terceira no espaço de meia hora e num raio de cinquenta metros. Não seria propriamente a dança da cadeira, mas a dança da marquesa.
Linda, sensual e perfumada com o gel anti-séptico do duche das sete da manhã, que se seguira ao clister, apenas vestia uma bata retro vintage seexty “verde – esperança”, feita de uma espécie de papel reciclado das revistas de moda , ultra anti séptico e semi transparente, o que aumentava o seu grau de sensualidade, atada ao pescoço e aberta atrás, em todo o seu esplendor.
- Vá, vamos lá, Drª Isabel. Esta é a última mudança. Cuidado com o bracinho.
Desta feita, seria o último transbordo, o derrame para a pole position de todas as marquesas, para o palco, para ribalta do retalho, onde os focos de luzes não faltavam, o proscénio, a um palmo do fosso. A mesa de cirúrgia.
- Agora, Drª, faça exactamente como lhe vamos dizer (como se a Isabel lhe passasse pela cabeça fazer de maneira diferente)
- Escoste –se toda à esquerda,... vá mais um pouco... Um bocadinho mais. Chegue mais o rabinho para a ponta da marquesa. Agora passe para a mesa. Calma, devagar. Venha mais para baixo. Isso. Agora endireite o tronco para este lado. Estique o braço esquerdo, cuidado com a agulhinha!!! Agora coloque o braço o direito ao longo do corpo.
- O direito sai da mesa- observou outra enfermeira. A Drª Isabel é gordinha. Temos de arranjar uma espécie de tala para o braço caber na mesa.
- Deve estar a brincar! - disse Isabel, no meio de uma gargalhada.
- Não, Drª, é que a equipa médica tem de caber toda desse lado e o seu bracinho também. É muita coisa, sabe. E para mais um dos cirurgiões também ocupa muito espaço.
-Ah! Estou mais descansada. Logo vi que o problema não me era intrínseco. Afinal é uma questão de logística da equipa médica.
Isabel, apesar das suas formas redondas e dos seus cinquenta anos, era uma mulher bastante feminina que gostava de mostrar as suas formas, de provocar com as suas curvas e extra-curvas. Achava-se interessante, com alguma piada, sentido de humor, era descomplexada e dona de uma auto-estima capaz de ombrear com a de uma Miss América saída de uma clínica de lipoesculturas. Enfim, uma mulher descontraída, sorridente, cativante.
Apesar das talas para a mesa de cirurgia ou das picadas para encontrar as veias invisíveis, estava relaxada, sorridente, bastante auto confiante, atendendo à situação em si, e obedecia, sem pestanejar, a todas as indicações que as enfermeiras que davam.
Afinal, o que se propunham fazer com o seu corpo para ela eram peanuts. Coisa pouca, em princípio iria apenas retirar um quisto mamário.
Mulher calejada, useira e vezeira em situações cirúrgicas, amiga fiel do bistúri, por mão própria ou alheia, ah! mais corte, menos corte, desde que pudesse continuar a usar os seus decotes, mostrar o contraste da sua tez leite com os ondulado do seu cabelo negro, tal como o da sua avó, nada lhe faria qualquer impressão.
Chegou a equipa médica, a qual soltou as gracejolas da praxe, às quais Isabel respondeu, de igual para igual e, mal o anestésico entrou no soro desejou boa sorte à equipa, fechou os olhos e, sem perder tempo, correu na direcção àquele túnel vazio, oco, isento de gravidade, mas que a puxava com uma força inexplicável a que ela também, inexplicavelmente, cedia.
terça-feira, 26 de julho de 2011
A direcção do olhar
"Há quem seja feito de passado, quem viva de histórias guardadas a que chama recordações. Há quem caminhe sem sair do mesmo lugar. Passam os dias, os anos e um dia quando o final se aproxima, não o aceita porque não caminhou para ele. Só então se dá conta que não tendo passado pelo tempo, o tempo passou por si.
Não adianta negar, não adianta parar o tempo só porque nós parámos no tempo; ele prossegue alheio à nossa vontade. Passa como tivesse asas de vento. E quando reclamamos da sua rapidez, responde-nos com altivez : "O tempo é igual para todos, uns vivem-no com o olhar preso no que passou, na infelicidade que viveram, outros têm o olhar apontado para o futuro, aproveitam cada instante para procurar a felicidade que ainda não alcançaram."
E porque o tempo continua a passar, não se esqueçam de escolher a direcção do vosso olhar."
Adaptado do post.it publicado em Pós de bem querer
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