by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

quarta-feira, 7 de março de 2012

DECLARAÇÃO DE GUERRA



Ir ao cinema é um dos poucos prazeres que vou ainda vou cultivando, pese o facto do barulho das pipocas me irritar solenemente, de saber de antemão que nesta altura do ano certas salas de cinema são autênticos meios de cultura de vírus da gripe, do IVA ter encarecido os bilhetes, de me sujeitar, vezes sem conta, aos comentários dos vizinhos do lado, ou aos pontapés do perna longa que se sentou na fila de trás.

Vou ao cinema desde muito miúda, com o meu pai, ver os grandes clássicos como Música no Coração, Os Dez Mandamentos, no Tivoli ou no S. Jorge, ou, à socapa, muitos antes dos 18 anos que a lei obrigava, no velhinho Joaquim de Almeida, para ver O Caçador, La Luna ou outros que fizeram história.

Sou do tempo dos filmes indianos, dos da televisão, mas também daqueles do cinema, nos quais a rapariga da casta superior apaixonava-se sempre pelo rapaz errado, da casta mais que inferior, e lá vinha tragédia, música e dança. E, no fim de muita lágrima própria dos 15 anos e de uma tarde de sábado no cinema da avenida, tudo acabava bem, mesmo lá nas Índias que já não eram nem portuguesas nem inglesas, mas onde o amor era a arma que ainda vencia tudo aquilo que o dinheiro e a cultura separavam.

Gosto de cinema a sério e ainda no outro dia comentava para com os botões da fronha da minha almofada, o que seria que se teria passado com o Spielberg para começar a fazer filmes para galináceos a afins.

Um dos últimos filmes que vi foi "Declaração de Guerra". Não o vi numa tarde de sábado, num cinema da avenida. Vi-o num domingo à noite, num cinema de bairro.

Por incrível que possa parecer, o filme tinha tudo para ser normalzinho. O filme tinha legendas, a sala estava quase vazia, não havia pipocas, nem vizinhos pernudos.O filme era francês e a duas dimensões.

Mas daquele ecrã emanavam, continuamente, emoções. Emoções fortes, daquelas que se sentem como murros na boca do estômago e que fazem saltar água com sal dos olhos. E turvam a vista e fazem-nos confundir a Tempestade de Chopin com as variações de Goldberg de Bach e provocam-nos rewinds a 64 rotações seguidos de forward a 0,2,  à velocidade da luz... and cry and tears et douleur et cinéma.

Não era um filme indiano, nem a rapariga era imensamente mais rica do que o rapaz, mas nunca casaram, tiveram um filho e o amor acabou.

É por ver filmes destes, que me turvam as vistas e encolhem as entranhas, que continuo a gostar, imensamente de cinema.

8 comentários:

  1. Compartilho do gosto e dos desprazeres das salas lotadas.
    Apesar de tudo nunca deixo de ir. O gosto é maior que o desconforto.
    Um grande bj

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    1. É mesmo, Gisa. Apesar de, por vezes, apetecer mesmo mandar um berro para o vizinho do lado, nada se compara a uma sala de cinema.

      Bj

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  2. ...e de repente me fez sentir saudades de entrar numa sala de cinema. Há muito, muito que não vou. Nem sei quanto tempo já passou...

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    1. Ai, Rogério.... então jáé tempo de voltar a entrar! E prepare-se, elas já não são como antigamente :((
      Um abraço

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  3. Que belo texto sobre a paixão pelo cinema!
    Beijo grande.

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    1. Obrigada, Teresa.
      O cinema é uma das minhas paixões. (e esta não é proibida :))
      Beijo grande para ti tb, amiga.

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  4. Aprecio bastante o teu humor! Ainda não vi o filme que referes, mas tenho interesse em ir ver!
    Para mim o cinema também é uma paixão (na sala escura), fujo às pipocas e a reboliços, indo às primeiras sessões, onde às vezes nem meia dúzia de pessoas estão presentes!
    Beijinhos,
    Manuela

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    1. O filme é espetacular, Manuela. Vale mesmo a pena!
      E essa paixão pelo escuro.... é de aproveitar e juntar a outras paixões :))) seja às primeiras sessões, quando a sala está quase meio vazia, seja qd a sala está meio cheia:))
      beijo e abraço

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