by Ana

Um espaço para partilhar as "tolices" de cada dia, de uma forma descontraída, descomprometida e com algum sentido de humor. Only that.

domingo, 4 de novembro de 2012

A culpa é da crise




Imagem daqui
 


Sou fraca na escolha de palavras possantes e tão branda na imposição de limites quanto apaixonada pela conjugação na primeira pessoa do singular  do presente do indicativo do verbo  "Dar".
Eles, por outro lado, nasceram doutos na capacidade argumentativa e hábeis conjugação dito verbo na segunda pessoa do imperativo, com absoluta indiferenciação entre o singular e o plural.

Por isso,

"Um dia, isto tinha de acontecer"

Existe uma geração à rasca?
Existe mais do que uma! Certamente!
Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa
abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes
as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar
com frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também
estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.
Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância
e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus
jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a
minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos)
vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós
1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram
nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles
a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes
deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de
diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível
cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as
expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou
presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o
melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas
vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não
havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado
com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A
vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem
Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde
não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar
a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de
aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a
pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e
da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que
os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade,
nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter
de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e
que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm
direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas,
porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem,
querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo
menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por
escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na
proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que
o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois
correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade
operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em
sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso
signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas
competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por
não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração
que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que
queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a
diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que
este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo
como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as
foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não
lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de
montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o
desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e
inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no
retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e
nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como
todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados
pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham
bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados
académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos
que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e,
oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a
subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos
nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares
a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no
que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida
e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme
convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem
fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e
a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço? "


 
Mia Couto ou talvez não

 

domingo, 14 de outubro de 2012

La pirogue



Terminou, hoje, a 13ªfesta do cinema francês.
Todos os filmes que vi (LE FILS DE L’AUTRE, JE ME SUIS FAIT TOUT PETIT, JE ME SUIS FAIT TOUT PETIT,DE BON MATIN, PARLEZ-MOI DE VOUS, POULET AUX PRUNES  e LA PIROGUE ), valeram bem as enchentes do S. Jorge, os intermináveis minutos de publicidade que antecediam a projeção de cada filme, as voltas e voltinhas à procura de estacionamento.
"La Pirogue", para mim o último,  fechou com a chave que se impõe num grande festival como este.
Um belíssimo filme, extremamente emocionante, que retrata o drama dos milhares de senegaleses que decidem atravessar o oceano em "canoas" enormes sem conforto e, às vezes, sem o real conhecimento do mar, pagando esta passagem para o "paraíso" a preços de ouro.
A não perder, mas assegurar, antecipadamente, o stock de Kleenexs!
 

domingo, 7 de outubro de 2012

Brum, brum!!

 
Estava a ver a reportagem sobre o conselho de ministros extraordinário (a um domingo, coitados) e pensei: bastava um carrinho daqueles, onde S. Exª se fazem transportar, para pagar a dívida da minha modesta casinha ao banco.
Alguém é especialista em ligações diretas?

sábado, 6 de outubro de 2012

Fogueira moderna

Depois de muito pensar, refletir, analisar, ponderar, fazer contas à vida, decidi que o melhor mesmo é ouvir e calar. Vou-me deixar de manifs, vou parar de partilhar protestos, vou fazer vida de avestruz.
Berrámos porque era ilegal, por via da desigualdade e outras, o corte dos subsídios e eis que surge surge uma TSU que dá com uma mão, mas tira com duas.
Saímos para a rua para protestar a dita e, em resposta, voilá o agravamento do IRS, mais sobretaxas de não sei do quê, mais agravamentos do IMI, mas tudo com a igualdade de bem e do direito.
Já não sei se estaremos a lidar com gatunos de casaca ou com uma espécie da inquisitores dos tempos modernos.
O que é certo é que fogo, para mim, só o do Dragão...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

"Telepatia"




Em 1981, quando soaram os primeiros compassos desta "telepatia", vivia dividida entre a obrigação de continuar a ser uma menina bonita, exemplar e aplicadinha nos estudos (estava no final do ensino secundário) e a vontade de mandar os livros, os apontamentos, os trabalhos e os cadernos às urtigas e correr atrás das emoções dum grande amor que despertava pela mesma altura.
Recordo-me, perfeitamente, de ter os esquemas do desenvolvimento/reprodução das angiospérmicas à minha frente, prontinho para ser devorado, e começar a ouvir, vindo não sei muito bem donde, a Lara com a sua telepatia. E logo as plantas paravam de se desenvolver, ficavam estéreis, ao mesmo tempo que eu perdia o meu olhar no infinito, esforçando-me telepatizar com ele.
Hoje, cada vez que ouço a "Telepatia", recordo-me das angiospérmicas que, apesar de tudo, continuam o seu ciclo de reprodução, e desse grande amor que foi resistindo a muitas coisas, algumas delas bem mais difíceis do que entender o ciclo de desenvolvimento das angiospérmicas...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Hope





"Se você me esperar, voltarei
Mas espere-me com muita força
Quando a chuva trouxer a tristeza
Espere que a neve se dissipe
Espere quando o verão triunfar
Espere quando esquecer o passado”


Poeta Simonoff (Les uns et les autres)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Profs de férias!

Os professores já estão de férias.
Acabaram as aulinhas e agora é vê-los encherem as esplanadas, os centros comerciais, as agências de viagens, as praias...
Bom, nem todos, nem todos...
Alguns ainda optam pelo facebook, ou pelos blogs, é conforme.
Eu cá optei por redigir relatórios, mas ouvi falar de uns quantos que preferiram classificar exames nacionais, às resmas e em tempo record. Dizem que o MEC paga bem!!
Isto é como em tudo, ... excentricidades...


quinta-feira, 14 de junho de 2012

Um "tema de assunto"

Não me tem apetecido escrever. Não por não ter montes de "assunto de tema" ou "tema de assunto", mas simplesmente porque não. Não flui, não tenho sentido necessidade de.
Hoje, recebi por e-mail esta reflexão sobre a língua portuguesa, em jeito de redação, escrita por um aluno do 8ºano.
Ora aqui ficam as palavras do João, como se fossem as minhas.

Declaração de Amor à Língua Portuguesa

Vou chumbar a Língua Portuguesa, quase toda a turma vai chumbar, mas a gente
está tão farta que já nem se importa. As aulas de português são um massacre.
A professora? Coitada, até é simpática, o que a mandam ensinar é que não se
aguenta. Por exemplo, isto: No ano passado, quando se dizia “ele está em
casa”, ”em casa” era o complemento circunstancial de lugar. Agora é o
predicativo do sujeito.”O Quim está na retrete” : “na retrete” é o
predicativo do sujeito, tal e qual como se disséssemos “ela é bonita”.
Bonita é uma característica dela, mas “na retrete” é característica dele?
Meu Deus, a setôra também acha que não, mas passou a predicativo do sujeito,
e agora o Quim que se dane, com a retrete colada ao rabo.
No ano passado havia complementos circunstanciais de tempo, modo, lugar
etc., conforme se precisava. Mas agora desapareceram e só há o desgraçado de
um “complemento oblíquo”. Julgávamos que era o simplex a funcionar: Pronto,
é tudo “complemento oblíquo”, já está. Simples, não é? Mas qual, não há
simplex nenhum,o que há é um complicómetro a complicar tudo de uma ponta a
outra: há por exemplo verbos transitivos directos e indirectos, ou directos
e indirectos ao mesmo tempo, há verbos de estado e verbos de evento,e os
verbos de evento podem ser instantâneos ou prolongados, almoçar por exemplo
é um verbo de evento prolongado (um bom almoço deve ter aperitivos, vários
pratos e muitas sobremesas). E há verbos epistémicos, perceptivos,
psicológicos e outros, há o tema e o rema, e deve haver coerência e
relevância do tema com o rema; há o determinante e o modificador, o
determinante possessivo pode ocorrer no modificador apositivo e as locuções
coordenativas podem ocorrer em locuções contínuas correlativas. Estão a ver?
E isto é só o princípio. Se eu disser: Algumas árvores secaram, ”algumas” é
um quantificativo existencial, e a progressão temática de um texto pode
ocorrer pela conversão do rema em tema do enunciado seguinte e assim
sucessivamente.
No ano passado se disséssemos “O Zé não foi ao Porto”, era uma frase
declarativa negativa. Agora a predicação apresenta um elemento de
polaridade, e o enunciado é de polaridade negativa.
No ano passado, se disséssemos “A rapariga entrou em casa. Abriu a janela”,
o sujeito de “abriu a janela” era ela,subentendido. Agora o sujeito é nulo.
Porquê, se sabemos que continua a ser ela? Que aconteceu à pobre da
rapariga? Evaporou-se no espaço?
A professora também anda aflita. Pelo vistos no ano passado ensinou coisas
erradas, mas não foi culpa dela se agora mudaram tudo, embora a autora da
gramática deste ano seja a mesma que fez a gramática do ano passado. Mas
quem faz as gramáticas pode dizer ou desdizer o que quiser
,
quem chumba nos
exames somos nós. É uma chatice. Ainda só estou no sétimo ano, sou bom aluno
em tudo excepto em português,que odeio, vou ser cientista e astronauta, e
tenho de gramar até ao 12º estas coisas que me recuso a aprender, porque as
acho demasiado parvas. Por exemplo, o que acham de adjectivalização deverbal
e deadjectival, pronomes com valor anafórico, catafórico ou deítico, classes
e subclasses do modificador, signo linguístico, hiperonímia, hiponímia,
holonímia, meronímia, modalidade epistémica, apreciativa e deôntica,
discurso e interdiscurso, texto, cotexto, intertexto, hipotexto,
metatatexto, prototexto, macroestruturas e microestruturas textuais,
implicação e implicaturas conversacionais? Pois vou ter de decorar um
dicionário inteirinho de palavrões assim. Palavrões por palavrões, eu sei
dos bons, dos que ajudam a cuspir a raiva. Mas estes palavrões só são para
esquecer, dão um trabalhão e depois não servem para nada, é sempre a mesma
tralha, para não dizer outra palavra (a começar por t, com 6 letras e a

acabar em “ampa”, isso mesmo, claro.)
Mas eu estou farto. Farto até de dar erros, porque me põem na frente frases
cheias deles, excepto uma, para eu escolher a que está certa. Mesmo sem
querer, às vezes memorizo com os olhos o que está errado, por exemplo:
haviam duas flores no jardim. Ou : a gente vamos à rua. Puseram-me erros
desses na frente tantas vezes que já quase me parecem certos. Deve ser por
isso que os ministros também os dizem na televisão. E também já não suporto
respostas de cruzinhas, parece o totoloto. Embora às vezes até se acerte ao
calhas. Livros não se lê nenhum, só nos dão notícias de jornais e
reportagens,ou pedaços de novelas. Estou careca de saber o que é o lead,
parem de nos chatear. Nascemos curiosos e inteligentes, mas conseguem
pôr-nos a detestar ler, detestar livros, detestar tudo. As redacções também
são sempre sobre temas chatos, com um certo formato e um número certo de
palavras. Só agora é que estou a escrever o que me apetece, porque já sei
que de qualquer maneira vou ter zero.
E pronto, que se lixe, acabei a redacção - agora parece que se escreve
redação.O meu pai diz que é um disparate, e que o Brasil não tem culpa
nenhuma, não nos quer impôr a sua norma nem tem sentimentos de superioridade
em relação a nós, só porque é grande e nós somos pequenos. A culpa é toda
nossa, diz o meu pai, somos muito burros e julgamos que se escrevermos ação
e redação nos tornamos logo do tamanho do Brasil, como se nos puséssemos em
cima de sapatos altos. Mas, como os sapatos não são nossos nem nos servem,
andamos por aí aos trambolhões, a entortar os pés e a manquejar. E é bem
feita, para não sermos burros.
E agora é mesmo o fim. Vou deitar a gramática na retrete, e quando a setôra
me pe.rguntar: Ó João, onde está a tua gramática? Respondo: Está nula e
subentendida na retrete, setôra, enfiei-a no predicativo do sujeito.

João Abelhudo, 8º ano, setôra, sem ofensa para si, que até é simpática

(enviado por e-mail)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Cantigas de sempre



Esta é uma daquelas que ouvimos e ouvimos e cantamos e cantarolamos e encantamos e desencatamos e entranhamos e respiramos e transpiramos e sussuramos e sonhamos. Sempre.